SOMOS PERSONAGENS NESTA TELA
Não estamos aqui por qualquer outro motivo que não seja
o medo.
É verdade, depois de viver quase que uma vida inteira,
descobrimos que tememos o amor.
Já não temos coragem de olhar fundo e verdadeiramente
nos olhos de outro alguém. Por isso estamos aqui, procurando um amor virtual.
Aqui a dor não nos ameaça, nem o sofrimento ou a
desilusão, pois não existe a maciez do toque, não existem carícias, nem o cheiro
da pele, ou o suor do amor feito, nem o sabor inebriante ou a dor inevitável do sexo, não existe o brilho do olhar.
Aqui é onde podemos encontrar outros iguais a nós que
vivem da fantasia de um amor perfeito atrás da tela morta e imóvel.
Aqui damos vazão às nossas fantasias.
Aqui não importa a verdade, mesmo que ela nos intrigue,
não importa a sinceridade dos sentimentos.
Aqui jamais seremos presos por um cadeado de carne.
Aqui seremos apenas cada um de nós, com os sonhos que
nós mesmos sonhamos, com a ilusão que nós mesmos criamos. E ninguém jamais
saberá se somos verdade ou personagens de um teatro imaginário.
Aqui ninguém arrancará nossas máscaras, e com elas a
nossa pele. Não sangramos, mas a realidade ri de nós como uma velha... sem
dentes; que se compraz no nosso medo, e não conseguimos ver o quanto a velha é
feia em sua gargalhada estridente.
Quando vem o dia nossa vida corre sem atribulações, não
é necessária a espera, ninguém disse que chegaria.
Aqui sentimos o prazer, vemos
alguém que foi traduzido por uma foto, e algumas palavras escritas.
Encontramos com nosso parceiro virtual e nesse quase funeral do amor, nosso luto é a saudade de um tempo em que não existia o medo, e saudade... Saudade não tem cor.
Madu Dumont
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