sábado, 31 de dezembro de 2016

CARTA A ALGUÉM QUE NÃO CONHEÇO. FELIZ 2017



Não sei quem é você, como você não sabe quem sou, apenas nossas dores se assemelham.




Algumas coisas são inerentes à nossa vontade e nos pegam desprevenidos ou simplesmente inocentes, e tornam-se inesperadamente de um tamanho que não conseguimos dimensionar: a dor, a solidão, a morte... mas também tem a beleza, o sublime e em alguns momentos, a felicidade.
Estranho, que da mesma forma que surgem, nós as perdemos. Nesse momento resta-nos a poesia pessoal. Chego a perguntar se ela é suficientemente forte para nos sustentar... Aí descubro como é importante chorar, chorar muito, pois o processo pelo qual nos tornamos humanos foi doloroso demais.
Chorar por não poder acreditar tanto, e é tão bom acreditar... chorar porque em algum momento temos que abrir os olhos para a realidade, e ela geralmente se finda na maior e mais dolorosa lucidez de nossas vidas: no sentimento de que tudo que fizemos, desde o nosso primeiro pensamento que começou ardente, quando éramos fogo, foi se extinguindo e se transformando em cinzas.
Chorar bastante, chorar muito, por não conseguirmos amar se não for apaixonadamente. Chorar muito, exageradamente, até os olhos doerem, porque sabemos que daqui em diante, choraremos muito menos.
Agarrarmo-nos novamente à nossa poesia pessoal e entender que fomos além porque não tivemos medo. Porque nos aventuramos, não uma, mas inúmeras vezes. Chorar porque sabemos que vamos nos aventurar outras vezes, que este medo e esta dor vão passar e serão lembranças ou quem sabe, esquecimentos.
E outra vez nos agarramos à poesia. Li uma vez: “Pode haver uma seriedade mais séria que a seriedade poética? Talvez seja este o fio que nos liga ao universo e nos mantém vivos (ao menos comigo é assim), preciso da força real da poesia. Preciso dela contra o veneno irreal do supérfluo, do medíocre.

A dor vai passar, tudo vai passar, e por isso não podemos fugir quando alguém começar a nos compreender. Não podemos usar como muleta a cegueira do outro como segurança ou liberdade.
Só precisamos esgotar nossas dores, mergulhar bem no fundo dela, para que quando conseguirmos emergir, possamos voltar a arder como fogo e aventurar, e voar, voar bem alto.
Comprei um lindo anel de lápis-lazúli, onde na pedra tem o desenho de uma fênix. Sei que em breve terei coragem de usá-lo, quem sabe amanhã, como um símbolo.
Voltaremos a ser as pessoas para quem a liberdade e a aventura nunca foi demais. Voltaremos a fazer as viagens para as regiões desdenhadas de nossas almas e faremos as pazes com todos os que somos nós.

Talvez seja isto que desejo a você, alguém que não conheço, que não sei quem é, que não tenho idéia de como é seu rosto, que nunca acariciei seus cabelos, nem sei se são macios, mas principalmente, nunca vi a luz de seus olhos, que pode também vir a ser uma lembrança, ou um esquecimento. E por favor, não me pergunte por que? Talvez seja apenas mais um capricho da poesia.
31 de dezembro de 2016 - Feliz Ano Novo

Madu Dumont

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

ADIVINHA-ME



  

Adivinha-me.
Adivinha-me porque faz frio.
Dá-me a sua mão desconhecida
que a vida está me doendo.
Dai-me mais que momentos.
Desamparada lhe entrego tudo.
Estou buscando o entendimento
do extremo gesto de amor,
para construir uma alma possível
sem a anestesia da noite.

Sinto falta como quem morre.


Quero ser apenas uma semente
sem estrelas para me guiar,
apenas sua mão me levando

ao lento passo do amanhã.

Madu Dumont

UM AMOR COVARDE



Se a gente não der amor
ele apodrece dentro de nós.
                        Manoel de Barros


Eu te conheço, você me conhece.
Você tinha uma vida e eu também tinha a minha. Você é capaz de me dizer o que está acontecendo? Estamos vivendo uma fantasia? O que significa ficar sem ar quando estou sem você? E depois me dá uma dor no peito. Uma dor boa.
São apenas coisas impossíveis de mudar. 
Os anos passaram sim, e é como se eu estivesse procurando dentro de você esses anos que te fizeram covarde diante do amor.
Quando estou junto a você o mundo lá fora é diferente, deve ser porque continuo encantada.
Então... como é que ficamos?
Podemos brincar que o tempo não passou, que somos jovens, inexperientes e cheios de verdades? Ou quem sabe, tomar consciência do que somos, e daquilo que queremos.
Mas você continua como o amor, covarde, tem medo da dor que ele pode ou não causar, e foge. Mesmo tendo a consciência do tempo limitado, falta a ousadia de enfrentar seus próprios hábitos, suas próprias expectativas, mas principalmente enfrentar as minhas expectativas, sem saber, sem nunca ter perguntado quais são elas. Ou saber que simplesmente não tenho expectativas, que serei sempre despojada, que amo a aventura e que meu amor não tem medo.
A covardia do seu amor é poderosa e representa perigo: pode criar oprimido e opressor, não permitindo que nos encontremos com nossos mais profundos desejos.
E não diga que são as coisas da vida, os anos que passaram. O que falta é a coragem de sentir a dor boa do amor no peito. Será que vai partir seu coração outra vez?
E lá se vai mais um dia, mais um ano, e mais uma vez quer fugir, fugir tanto, que pode terminar andando de costas para o sol, assustando-se com uma brisa, julgando ser ela um furação.
Pense na época boa, a época da inconsequência, da audácia de se aventurar, e lembre-se de como foi feliz. Imagino que nessa hora, se conseguir se recordar, apagará a alegria e se apegará apenas à dor, é inevitável, todo fim doi.
Seu amor é covarde porque não entende que nada é para sempre, que se houve uma dor, assim como veio partiu.
Agora nada mais é possível, prefere ficar aí esperando que algo bom venha a acontecer.
Seu amor é covarde, gostaria tanto que se olhasse, e esquecesse o medo. Arrancase sua máscara e que junto dela saisse sua pele, e escorresse sangue , para que você rompa o casulo e seja uma borboleta, e voe... e volte... ou não, apenas para que se redimise do medo. Deixasse de acreditar que o fim é o fim, que quando acabar... acabou; e você foi outra vez feliz. Mas seu amor é covarde e desperdiça o tempo, ao invés de fazer dele algo valioso. O seu amor é covarde, precisa reaprender a viver desde o princípio para outra vez dizer: “não acredito que te encontrei”! E sorrir, e chorar.
Mas você se acomodou ou optou pela mediocridade.
Nunca mais saber dizer com o olhar: “eu te amo”! Na hora de dormir fazer um sexo convencional, que pode até terminar com um selinho na testa ou nos lábios.
O Amor é covarde, seu amor é covarde, ele fez de você alguém que não consegue mais se aventurar. 
É verdade, talvez eu esteja enganada e seja esse o seu sonho...
Não consigo acreditar, já vi seus olhos, encarei seu rosto em frente ao meu e nele consegui ver sua alma. Mas tudo isso você já sabe.

Eu? Fiz a minha escolha, posso viver anos, sem nem mesmo saber o que é viver, e em um único momento, um instante qualquer, descobrir uma vida inteira. Nunca deixarei de mergulhar. E que venham as dores boas de sentir no peito.

Provavelmente como uma vingança espero que nunca se esqueça do momento em que se aventurou comigo.

Madu Dumont

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

ELA É A MÃE, A ALEGRIA E A AUTORIDADE...


A EXTRAORDINÁRIA FAMÍLIA DE AMÁLIA



Parece apenas mais um casa, em uma rua comum, de um bairro comum, de uma cidade comum.
Quem passa na porta jamais imagina o universo que habita naquela casa.
Um dia, houve um pai, uma mãe e uma quantidade infinita de filhos, se compararmos com os tempos que vivemos hoje.
Era a mãe, a mulher que nasceu e viveu para o amor. Nunca foi submissa, mas nunca levantou a voz e fingia com maestria que obedecia a seu marido. Mas aí entrava a força do seu amor incondicional.
Ouvia e via tudo que se passava ao redor, cuidava de tudo, do trabalho, dos filhos... com uma singeleza e determinação comoventes.
Só fazia o que queria e quase ninguém percebia que era em torno do seu jeito simples que o mundo girava. Do seu sorriso singelo.
Estendia a seu amor a quem quer que fosse, bastava bater-lhe à porta, e por sorte, nessas horas, seu marido a acompanhava nesse amor, ou era ele que acolhia o recém-chegado.
Transformou seu companheiro, em um pai maravilhoso, soube usar todas as suas qualidades e artimanhas para que os filhos, também em torno dele, acreditassem e tornassem aquele homem o centro do universo. Enquanto ela, com sua batuta, regia uma orquestra de almas. 
O amor era grande demais, mas a vida também era difícil demais, fico imaginando como ela conseguiu fazer de todos os filhos e netos, almas dignas de serem admiradas. 
Nunca acreditei que alguém pudesse fazer de uma família, um universo de luz e amor.
Também nunca havia conhecido uma família assim, onde as regras fundamentais para fazer parte são: respeito, amizade, companheirismo, solidariedade e principalmente e acima de tudo, o amor.
Se quiser chegar, venha... será bem recebido (se também sentir amor), mas atenção: falar é difícil no meio deles, às vezes, tem que ser no grito mesmo, pois neste reino louco, todos falam ao mesmo tempo, nem precisa ser sobre o mesmo assunto. A qualquer hora tem o que comer, ou no mínimo um cafezinho na mesa.
A turma hoje tem tudo, mas esse tudo é dividido entre todos.
O mais incrível é que, desde a partida do pai, já faz alguns anos, ele continua ali... Talvez sentado na varanda, ou na cabeceira da mesa, tomando conta de tudo, brigando por suas ordens. Hora do almoço, tomava uma cervejinha, amava e aconselhava os filhos, os netos e bisnetos.
Algumas vezes quando chego, tenho a sensação de que vou receber um abraço, mas o mais provável é que eu receba uma gozação.
Pois é, a extraordinária família de Amália me recebeu, e também à minha filha, que depois da vida inteira com três ou quatro primos mais próximos, agora tem uma variedade enorme de tias, primos, primas, escolheu uma madrinha e elegeu um padrinho, da noite para o dia a família de nós duas se transformou em um mundo de gente que só nos faz feliz.
O amor aqui é demonstrado de diversas maneiras, de um beijo no rosto, a uma mudança de vida ou mesmo com um simples: “vai pra peida”.
Hoje me sinto uma minúscula partícula deste universo, mas não tenho pressa, estou chegando, fazendo acertos, cometendo erros, mas degrau a degrau, acho que vou conseguir chegar.
Foi ela, a matriarca, que ao longo de mais de 50 anos, dia a dia, construiu esta vida de força, beleza e generosidade.
Se o universo permitir, viverei para sempre junto e amando a extraordinária família de Amália, pois sei, que no momento que eu partir desse mundo, além da minha filha, terei uma infinidade de mãos segurando a minha mão com amor. Não tenho mais medo.

Madu Dumont
PS. Me desculpem os outros, mas jamais caberia todos em uma foto. Escolhi a gargalhada de Amália.



 


sábado, 24 de dezembro de 2016

É NATAL


Então é Natal


Pensando aqui, solitária em uma noite de verão, descubro que é NATAL. A comemoração do nascimento do filho de Deus.
Que triste me parece comemorar algo tão importante em uma única noite de gala.
Aquele que muitos de nós chamamos de “Deus”, “luz universal”, “ser superior”, “energia de amor”, e até aqueles que dizem não acreditarem em sua existência, devem reconhecer que entregar um filho dileto, para que salvasse seus irmãos (nós) de nós mesmos, é um ato de extrema coragem.


Mas não vejo um único presente ao aniversariante, onde está? 
Será que amanha, quando eu olhar no fundo, bem no fundo dos olhos de quem eu amo e que não vejo faz muito tempo, e minha alma tremer e que mesmo sem uma palavra, consiga demonstrar meu amor e ver nos olhos do outro o mesmo amor, e sentir um desejo enorme de me afogar ali para sempre, este amor também não é NATAL?
Será que acariciar a pétala daquela rosa que enfeita a mesa, também não é NATAL?
Será que tocar as mãos de quem eu amo, e da mesma forma, e com o mesmo amor, as mãos de quem vejo pela primeira vez, e sentir o mesmo amor; outra vez será NATAL? Será que em todos os dias existe o NATAL e que estamos tão ocupados que nem percebemos?
Então a morte vem para quem muito amamos e nossa dor egoísta não permite que seja NATAL, pois aquele presente não daríamos a Jesus, sem sequer nos lembrarmos que ele deu sua vida a nós.

Nesta noite de gala, faz 2000 anos que nós o devolvemos à sua humilde manjedoura, será que alguém pensou em lhe dar o conforto de um berço? Qualquer coisa menos pobre ou triste, pois é dele a ingrata tarefa de nos salvarmos de nós mesmos.

Agora quero olhar os olhos de todas as pessoas que encontrar, lá no fundo. Quero tocar todas as mãos que estiverem ao meu alcance. Quero entregar meus mortos ao seu local de origem, como mais um presente a esta luz divina, como mais um presente de natal. E não vai importar o tamanho da minha dor, de alguma forma, de alguma maneira, ela passa, ou apenas se transforma.
Quero tocar as rosas, as pedras, nelas também estão um pequeno pedaço do universo.
Se penso que fracassei, penso também, que ainda tenho salvação, no momento em que me for permitido olhar em seus olhos meu irmão Jesús (perdoe-me a pretensão) e desejar me afogar em todo amor que existe alí. Quando eu conseguir (ao menos vou tentar) transformar cada instante da minha vida em um NATAL.

Assim, como você fez comigo Jesus, e eu não percebi, quero pronunciar a palavra “Amor”, sem medo de estar sendo profana.

Madu

domingo, 18 de dezembro de 2016

SÓ PODERIA TER ACONTECIDO ASSIM...


TINHA QUE SER ASSIM, TINHA QUE SER VOCÊ...



... quanto tempo faz que estou tentando escrever sobre uma noite e não consegui encontrar a palavra certa para começar.
Minha primeira atitude foi comprar uma caneta nova, estou ficando a cada dia mais antiga, não sei olhar para uma tela sem emoção e simplesmente teclar.
Então vou começar por aqui, “uma mulher antiga” que busca ansiosamente falar de uma noite.
Poderia ter sido uma noite qualquer, como já havia acontecido outras, mas não, essa foi diferente.
Uma noite de sexo maduro, uma noite de companheirismo, de lágrimas passadas e presentes, tanto minhas quanto suas, de sorrisos também, gargalhadas quase a nos levar a rolar de rir.
Uma noite de muito humor sério, de compreensão e de cumplicidade.
Você chegou, como de outras vezes, com seu sorriso doce e demonstrando por mim uma admiração que não mereço. Neste momento eu não tinha certeza do que você pensava, ou trazia dentro de si, mas soube, ao te olhar, que eu estava para me perder.
Nos últimos anos eu vinha acreditando que nós, seres humanos, considerávamos o mundo um palco onde o que importava era nós e nossos desejos. Ver você, sua presença, sua verdade, seu saber (que nem imagina que sabe), desmontou o palco, os atores se foram, as rotundas desmoronaram, os holofotes apagaram. Não havia mais um drama ou uma comédia a serem encenados. Histórias tristes ou cômicas de nossas fantasias.
Como foi comovente este momento! Como foi inevitável!
Começamos com a poesia, da poesia fomos abrindo caminhos para nossas dores, toquei suas lágrimas e você tocou as minhas, mas sempre repletas de poesia.
Senti vontade de me afogar no azul dos seus olhos. Ainda estou lá, serena.
Nunca havia visto seu rosto com tantos detalhes; jamais o esquecerei, sei que provavelmente não esquecerá o meu.
Meu corpo que a tanto tempo me incomodava, voltou a ser aquele de vinte anos atrás e me vi rolando, sem vergonha ou pudor, acariciando e sendo acariciada, tocando e sendo tocada, nos meus seios, no meu sexo. E ainda havia os nossos beijos que pareciam eternos.
Concentramo-nos no aqui e agora, captando o que era essencial. Só assim pudemos nos mover, seguros, tranquilos, com o humor adequado, a melancolia adequada, na fascinante paisagem do tempo que já foi vivido e no espaço do que estávamos sendo agora.
A brincadeira, depois de tanta densidade de prazeres, nos propiciou a leveza de cozinharmos juntos, e seminus, entre um ovo e uma cebola, nos tocávamos mais, e nossos olhares luminosos se encontraram e não resistimos outra vez ao prazer, que buscamos em uma loucura ainda mais intensa e perdemos nosso jantar no forno.
Nessa noite não nos procuramos, era como se nunca houvéssemos sabido um do outro; e como foi esplêndido quando percebemos que nos encontramos.
Em um momento não sabíamos nada, no momento seguinte sentimos que não precisávamos procurar ou encontrar nada, estávamos alí, e isso era tudo.
Quando senti seu corpo sobre o meu, vi o rosto de um homem, talvez bem mais que um homem, um ser, um macho e compreendi que só poderia ter acontecido assim.
Era quando você me dizia para abraça-lo que eu prendia minhas mãos em seu dorso, e sentia nos meus dedos seu corpo completamente meu, inteiro... pele, carne, ossos, emoção, sentimentos, verdades, tudo completamente meu.
Você dentro de mim e eu me sentindo dentro de você. Compreendi porque a espera foi tão longa: tinha que ser assim, tinha que ser você, doce e violento. Nem a música nos podia fazer companhia, precisávamos ouvir nossa respiração.
Tenho a sensação de que seu corpo nunca mais sairá do meu abraço, das minhas mãos, ele ainda está aqui enquanto escrevo, seu sexo ainda está dentro do meu enquanto escrevo.
Não sei nada, não tenho verdades, mas tenho desejos. Não sei se poderei sentir tanto afeto (que aqui vai muito além do amor), mas tinha que ser assim.
Depois carinhos, mais desejos, mais poesias, e essa avidez incontrolável que fez de mim mulher outra vez e de você um homem inteiro para mim.
Escrevi esse longo texto pretensiosamente no plural, agora penso que essa verdade foi o meu sentir, não sei como é para você.
Eu, não sabia o que me faltava, até que essa falta, essa ausência, apareceu na minha frente. Sem pensar, subitamente tive a certeza que era tudo isso.
A plenitude dessa noite jamais me abandonará, não sei se consegue se recordar, mas por duas vezes deixei a porta aberta. Tanto pode partir, como pode voltar... eu lhe disse.
Saiba que tenho a convicção de que me fez mulher de uma maneira que até então eu não conhecia. Se voltar, além do prazer que trocamos, farei de você um homem feliz, sem me importar por quanto tempo, nadando em nossas lágrimas, ou rolando em nossas gargalhadas.
Ofereço a você, um ovo, uma cebola, meus beijos, meu corpo inteiro e de todas as maneiras, mas acima de tudo, ofereço minha esperança. 

Madu Dumont

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

O SONHO QUE NÃO FOI SONHADO


APENAS ACONTECEU



Uma chegada, uma buzinada na partida, um momento, um carinho, fizeram parte de nosso sonho coletivo, existiram... e nós nem sabíamos que teríamos tudo isso.
Um grande amor compartilhado dia após dia, e que nos orgulhávamos dele, o nosso sonho que não foi sonhado, apenas existiu.
Alguns dias vagueavam em lenta delicadeza, a delicadeza do amor partilhado, mas me lembro de outros, corridos, loucos, onde dividíamos tarefas e terminávamos mortos, mas completamente em paz.
De repente chegava as férias, os feriados e os outros personagens deste sonho, personagens importantes, muito importantes chegavam.
Era aí que nossos dias se tornavam bem mais que sonho, tornavam-se felicidade, tão viva que talvez pudéssemos até toca-la. E dávamos nossos melhores sorrisos, sorrisos não, gargalhadas... e de tudo, o mais gostoso é que ríamos de nós mesmos. Vivendo a inocência de um sonho infantil, não sonhado – realizado.
Outras vezes, nos socorríamos, e queríamos o aconchego dos abraços.
Poucos vão entender o afeto que morava atrás da janela da cozinha e nos chamava de “flôr”. Menos ainda o surto de gargalhadas por causa de um treze-treze.
Então, sem aviso, uma ou outra personagem deste sonho subia a montanha, e nós éramos capazes de dividir as dores.
Lembro-me do afeto, este sentimento que move o universo, e que nos mantinha cada dia mais unidos.
Tinha também uma gostosa brincadeira: quando chegava mais alguém, dizíamos que para participar deste sonho teriam que subir lentamente, degrau por degrau do amor.
Foi um sonho que passeou pelas montanhas, encontrou flores, viu algumas auroras e reverenciou tantas luas.
Sabíamos a força dos sentimentos e do quanto nós conseguimos conviver com ela. Sem palavras, liamos nossos olhos e nunca nos enganamos com o que eles diziam.
Com perplexidade, percebemos que não demoraríamos a acordar. Outra vez a realidade.
Fomos partindo, um a um, sem permitir que nos morressem as lembranças.

Apenas não é mais um sonho que viveu no alto de uma montanha, mas habita em uma foto na parede. Como um suave adeus.
Resta a certeza de que o amor jamais deixará de existir.


Madu Dumont

domingo, 11 de dezembro de 2016

A ESPERA



Você me disse: me espere, eu chegarei para você.



Se você me esperar eu chegarei. Mas espere com calma, espere com toda sua força, espere com todo seu amor. Se você me esperar eu chegarei.
Espere as folhas do outono caírem,  cobrirem a estrada por onde passarei para ir ao seu encontro.
Espere que os ventos de agosto tragam até nós o som exótico das tuias se agitando.
Espere-me com muito desejo porque na próxima lua cheia estaremos juntos e nos deitaremos na relva, e nos amaremos à luz da lua.
Espere que quando a primavera chegar e encher o ar com o perfume das flores, eu chegarei.
Espere que passe a escuridão da noite de tempestade que chegarei com a roupa molhada, os pés descalços e sujos de lama. Eu também conheço a dor da distância, por isso espere. Pois nunca mais haverá dor. Estarei ao seu lado para curar todas as feridas dessa longa espera.
Espere nos dias frios de inverno, mas espere com uma vontade obstinada, que logo dormirei ao seu lado e aquecerei o seu corpo.
Espere, espere apenas até eu conseguir gritar para o mundo que eu vou.
Espere de uma maneira implacável o calor tórrido desse verão abrandar.
Se você me esperar, prometo que não vou demorar mais.
Espere, pois quando eu chegar, jamais partirei.





Nem sei por quanto tempo esperei.
Ontem foi seu dia e me fez recordar todas as suas palavras, todas as suas promessas.
Não posso mais lhe dizer nem uma palavra, sequer posso dizer que esperarei.
A única coisa que posso agora é pensar, eu esperei, eu sonhei, eu desejei, eu acreditei.
Sei que você jamais poderá vir, a vida levou você.
Mas posso sentir que minha espera valeu a pena, minha espera alimentou todos os dias, por todos esses anos, a esperança da felicidade. Queria poder voltar a esperar.
Quem sabe o universo me dê a chance de esperar outro amor.
Mesmo que eu já saiba que o amor só vem uma vez...

Madu Dumont


quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

O AMOR NÃO VEIO




E FOI ASSIM QUE O AMOR NÃO VEIO





O amor não veio, não justificou, não disse nada, apenas não apareceu; não quis ouvir minhas palavras.
Não veio para que eu não possa mostrar o que sinto.
Não veio porque ando me esquecendo da poesia e sem ela é impossível falar, escutar a vida humana.
As mais estranhas histórias de amor são sempre as melhores, mas esse amor não quis vir e agora ri de nós, como uma velha sem dentes... e nada tem de estranho.
Quero pegar o amor e trancá-lo com um cadeado de carne, mas ele não se aproxima, não me permite tocá-lo.
Foi ele que se tornou poeta, quando esqueci a poesia. 
E no amor, a poesia é tão fundamental, que chega a fazer Deus sentir saudade dos homens.
Agora o mundo está feio, o homem se perdeu na tristeza, na desesperança... talvez seja por isso que o amor não veio.
Não veio, não para provar que é importante, mas para deixar expresso seu medo. Medo das fontes que poderiam jorrar dentro dele.
Venha, quero fazer amor uma vez antes de morrer. Mas não morreremos agora, ainda não.
Deve-me um acordo, mas como? Por mais que eu o tenha chamado, ele não veio.
Não posso sequer me despedir, pois não sei como ele me viu ou como nos vimos um ao outro. Não sei o que entre nós fracassou.
O amor não veio, e distante, tornou-se o escultor criminoso de minha alma.
Não sei se estou sendo cruel comigo, mas minha vida foi determinada por uma intoxicação amorosa.
Descubro que o amor só vem uma vez, se move como o mar, mas é sempre o mesmo.
Sorte a minha, pois se ele é o mesmo, posso simplesmente dizer adeus a qualquer amor.

A esse amor que não veio, apenas se moveu como o mar.

Madu Dumont

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

INTIMIDADE



NOSSO MUNDO INTERIOR





Acreditei um dia que havia desvendado você, sua intimidade.
Mas o tempo, que sempre foi implacável, a cada dia me mostrava seu mundo interior, diferente daquele que eu acreditava ter descoberto no dia anterior, diferente daquele que eu havia acabado de aprender.
Como me tornei patética diante do sonho, ou da pretensão de desvendar sua intimidade. Hoje tão diferente daquela que se tornou agora...
Então tenho o desejo idiota e insensato de voltar no tempo, de volta para aquele você, que deixei lá atrás e aproveitando; buscar também a mim. Voltar naquele tempo em que intimidade tinha nome de inocência.
Descobri que a intimidade é tão efêmera e ardilosa como uma miragem.
Mais ou menos como se surgissem contornos em uma neblina densa, difusos, que aos poucos vão se tornando possíveis de reconhecer, como quando nossos olhos se adaptam à escuridão e lentamente, vamos encontrando a direção.
Existem histórias que você, o mais íntimo, conta sobre mim. Como existem histórias sobre mim, que conto a você, meu ser mais íntimo.
É difícil distinguir quais são as mais verdadeiras. Quais delas podem refletir melhor nossas intimidades, quais estão mais próximas da verdade? Apesar de eu acreditar que a verdade é apenas um desconhecer que nos habita a alma, travestida de certezas, principalmente no quesito intimidade.
Todos nós temos segredos inconfessáveis, eu e você. Tão inconfessáveis que fingimos esquecê-los. Ou será que os segredos nada têm a ver com a intimidade? Ficam guardados em um lugar difícil de encontrar dentro de nós, intocados e intocáveis.
Será que temos autoridade suficiente para falarmos das intimidades, das suas, das minhas?
Mas em todas essas íntimas histórias, é possível existir mesmo alguma diferença entre verdade e fantasia? Entre o certo e o errado? Entre o agora e o ontem? Será que um dia já conseguimos desvendar o interior de qualquer um de nós dois? E que por mais que venhamos a tentar, chegaremos até o fim? Ou esta viagem será apenas mais uma viagem?
E na nossa mente, onde habita a intimidade, existem fatos? Ou tudo será mais uma invenção, e os supostos fatos o fictício desejo do que gostaríamos de viver?
Continuo sem saber quem somos. Quem sou eu, ou quem é você?
Agora não encontro mais a porta.

Madu Dumont


sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

POEMA DE AMOR AO DIA, OU À VIDA

Autoria de Mário Zainna


BOM DIA



- Olhei a vida...Deixando o tempo a passar,
deixando os olhos, a flutuar,
deixando o vento me soprar.
Falei com as pedras,
com as flores,
Conversei com as formigas
Que passeavam... Sorrindo e beijando-se...
Tanta beleza me cercava!Quando abri o coração,
e contei o que estava, a me afligir,
Beijei a rosa,
que me ofertou a beleza de sua cor...
Chorei!Como a vida chora.Ao Sol que me acalentava,às nuvens que me pulverizavam...
Sorri!
Sem marca e sem dor.
Olhei que a vida,
tem tanto amor...
E o meu peito vazio.
Notei que posso plantar o mesmo jardim,que me acolheu no vazio desta manhã. 

Mário Zainna

MÃOS ENTRELAÇADAS



TENHO PRESSA



De todos os toques, talvez o entrelaçar dos dedos das mãos, seja o mais importante.

É ali, com os dedos entrelaçados, que uma alma se entrega a outra, algumas vezes apenas por um efêmero momento.

Quando esta imagem me vem ao coração, ela me diz: estou aqui, leve-me, conduza-me, que eu o conduzirei também. Em nossas mãos sentimos o calor da ternura de nossa entrega.







- Eu confio em você, e você confia em mim – Oriente-me, me dê segurança de saber que se tropeçar, sua mão me manterá de pé. Posso prometer o mesmo, tentar nunca permitir que caia. Mas se não houver uma maneira de mantermos um ao outro de pé, cairemos juntos, e vamos rir, e nos esborrachar no chão, sem nos soltarmos.

Então saberemos que seremos sempre, em qualquer situação, um amigo que se dispõe a estar ao lado do outro.

Quando nossas mãos se entrelaçarem pela primeira vez, saberemos que nosso calor, nosso afeto, nossa proteção mútua, estará conosco para sempre.

Quero entrelaçar meus dedos aos seus, quero que sinta neles a minha amizade e a ternura que tenho a lhe oferecer.

São as mãos dadas, com os dedos entrelaçados (não me canso de repetir), que contribuem para que nos tornemos mais genuínos, para que nos aproximemos mais ainda, mesmo estando tão perto pelas palavras.
Não conheço você, nunca lhe vi, não posso mais desperdiçar um tempo precioso, quero sim, transformá-lo em algo bem mais valioso.
O que significa mais valioso? O equívoco de achar que mais tarde sempre haverá mais tempo?
Para viver a experiência, que lhe proponho, é decisivo que não venhamos a nos esquecer da finitude.
A vida tem pressa, é necessário tomar consciência daquilo que no fundo queremos. A consciência do tempo que se esgota. Mas quero que esse tempo se prolongue como algo que se abre para o futuro, não algo que o fecha. Não demore... Por favor, não demore...
Seja meu amigo, segure minha mão, eu segurarei a sua e lhe oferecerei um sorriso que virá da vastidão de um novo espaço, sem início ou fim, mas onde os sentires são verdadeiros. Entenda que entre todas as experiências silenciosas, também existem aquelas ocultas, escondidas na inquietação.
É fácil, toque minha mão e seja eternamente meu amigo, assim daremos à nossa vida uma nova forma, uma nova melodia.
Eu quero, isso é o que eu penso, pois quando se trata
de alma, quase nada se pode controlar, nem mesmo

 dizer:  “MEU AMIGO”.



para você, José Eduardo

Madu Dumont

domingo, 27 de novembro de 2016

UM HOMEM, UMA TARDE, UM AMOR MUDO.



LUIS FERNANDO,


E de repente me sentia capaz de olhar para dentro de você. Senti como uma revelação. Uma revelação que fez nascer uma esperança.

Era a esperança de reunir milhões de fragmentos compartilhados, sem necessidade de palavras. Compartilhados quase que como uma distância próxima.
Você não sabia naquela tarde, como eu não sei ainda hoje, que havia pessoas que poderiam compreender tão rapidamente o que ia dentro da alma do outro, provavelmente intuitivo, ou simplesmente pelo olhar.
Apenas compreendi que estar perto de você, lhe vendo mais do que eu imaginava que poderia, sem saber sequer quem era você, seria uma corrida atrás do vento.
Aquilo que consegui ver na sua alma, eu não lhe podia revelar, ainda não, não naquele tempo, naquela tarde. As suas e as minhas fragilidades, nossas dúvidas, nossos medos latentes e profundos... era cedo demais.
Nós não podíamos extrair a visão que tiramos do nosso interior, nem uma delas. Mas, como tudo que não se pode explicar eu sabia, e você também sabia.
Sem entender, no entanto, tudo de repente era diferente, não reparei se havia crianças jogando bola, não reparei no homem sentado à mesa do bar e que não merecia mesmo ser reparado.
A relva do caminho era diferente, ela era nativa e eu via uma luz, que me lembrava a luz do sol do amanhecer, aquela que tem um brilho especial. Era como se ela tocasse através dass minha mãos, diretamente dentro da sua dor. Essa luz, e esse carinho, iluminou sua dor e a tornou mais leve, ou mais forte, não sei dizer.
A porta da coragem ainda não havia se aberto atrás de nós.
Nessa hora fiquei curiosa em ver como era seu rosto, acho que faz mais de dez anos, e esta foi
a única vez que o vi, porque seu olhar era desimpedido.

E no palco vazio de nossas solidões compartilhadas por tão doce instante, mergulhamos naquela luz e encontramos um amor mudo, sem rebaixá-lo à condição de nada, apenas um amor mudo.
Um amor que venceu a distância, e o tempo, o não reconhecermos nossos rostos, o nunca mais acariciar com as mãos uma dor.

O amor mudo foi e será sempre, o amor que nunca morreu.

Obrigada Luis Fernando...


Madu Dumont

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

A MULHER DE 60




ENTÃO CHEGAMOS LÁ 







De repente, quando ela resolveu falar do amor, era como se pertencesse a um outro mundo, insuportavelmente vazio, regido por critérios pelos quais ela só podia sentir desprezo.
Ainda era uma mulher, seu desejo ainda era latente, sua alma também pulsava como quando tinha vinte anos, ou pulsava muito mais, pois tinha consciência de quanto agora seria mais difícil, seus amores, suas fantasias... 
Aquele corpo repleto de marcas do tempo, não havia envelhecido nem um único dia no prazer.
Das inúmeras experiências que viveu, conseguia agora traduzir em apenas uma palavra fortuita e sem o merecido cuidado: velhice. Mas foram essas experiências mudas, algumas ocultas, outras imperceptíveis, que deram à sua vida forma, colorido e melodia.
Os pensamentos se deslizam para fora de sua vivência e o que resta neste papel é um sem número de contradições, de preconceitos. Ela chega a acreditar que isso é um defeito, algo que devia ser esquecido: o desejo do prazer.
Talvez o tamanho deste desconcerto entre o desejo, a fantasia, o amor e preconceito (muitas vezes pessoal) é o tamanho, a maneira exata para compreender essa experiência do corpo e da alma, ao mesmo tempo conhecida e enigmática.
Então se é verdade tudo que acontece dentro dela e que só pode viver uma pequena parte, a dúvida permanece: O que fazer com o resto? 
Tem a sensação de que pela primeira vez está atenta e lúcida com relação a ela mesma, ao seu mundo mágico e ainda juvenil no seu interior.
Sentia-se como se houvesse embarcado em um avião para, poucas horas depois, aterrissar em um mundo externo completamente diferente, sem ter tido tempo de absorver as imagens que passaram durante o longo caminho.
É uma mulher, uma mulher que não suporta pensar que todas aquelas marcas, as das dores, as dos amores, as mais profundas, assim como as mais superficiais, tenham sido em vão. A pele do seu rosto, seus seios, os cabelos brancos que agora além da cabeça, nascem no sexo, a barriga um pouco mais volumosa...
As imagens nas vitrines desse mundo moderno, são grandes e nítidas, mas do outro lado do vidro, ela não tem como não sentir orgulho de ser quem é, de ser como é.
Os homens, não a olham mais, os vendedores a chamam de senhora, as crianças de tia ou vovó.
A família espera o bolo de banana, que era receita de sua não se sabe qual tataravó... Mas ela sabe, tem certeza, que seu lugar não é o forno, que seu desejo não é a gritaria das crianças.
Seu desejo é sexo, amor, toque, um longo beijo na boca, como se tivesse sido o primeiro, um abraço cheio do tesão igual àquele quando sua carne era dura, mas seu universo interno quase nada sabia do amor.
Hoje ela sabe tudo, dar e receber afeto, hoje não existe mais pudor, hoje não é mais o sexo pelo sexo, hoje é o sexo que foi para sempre, aquele que esteve guardado por tanto tempo nas cicatrizes de sua pele.
Hoje ela sabe ser completa, sente o sangue de seu homem, aquele que não está mais alí, correr nas suas veias, mesmo quando está acendendo a luz do forno para determinar o ponto do bolo, da tataravó, da avó, que tem certeza, também desejavam determinar, ao invés do calor do forno, o calor do sexo de seu homem.
Agora ela sabe mais que tudo, que não tem a menor ideia de como será essa coisa do desejo de viver um amor novo, em uma época que não conhece mais. Só sabe que não cabe nenhum adiamento. seu tempo está bem mais próximo do fim, do que do início, e pode ser que não reste muito.
Agora já não é entre milhões de pedras preciosas que abriria a porta do palácio de seus sonhos, mas sabia que podia ser a libertação de uma imagem de si mesma, aquela que na vitrine mostrava seus limites.
Será que há um mistério sob a superfície da vida humana? Ou as pessoas são exatamente como se revelam através de suas ações.
Está resolvida, tudo completamente claro, não precisa de bagagem, não precisa de nada que não seja apenas ela mesma, nem dinheiro, nem realidade, nem família, nem problemas, nem soluções.
O circo chegou à cidade, pobre, pequeno, o fotógrafo tirou uma foto dela, mostrou em um monóculo, sorriu e gostou da imagem que viu. Foi aí que ela decidiu, de uma vez por todas, e para sempre, fugir com o circo, exatamente como sonhou na infância: Pois o palhaço quem é? É ladrão de mulher...

Madu Dumont