terça-feira, 27 de dezembro de 2016

UM AMOR COVARDE



Se a gente não der amor
ele apodrece dentro de nós.
                        Manoel de Barros


Eu te conheço, você me conhece.
Você tinha uma vida e eu também tinha a minha. Você é capaz de me dizer o que está acontecendo? Estamos vivendo uma fantasia? O que significa ficar sem ar quando estou sem você? E depois me dá uma dor no peito. Uma dor boa.
São apenas coisas impossíveis de mudar. 
Os anos passaram sim, e é como se eu estivesse procurando dentro de você esses anos que te fizeram covarde diante do amor.
Quando estou junto a você o mundo lá fora é diferente, deve ser porque continuo encantada.
Então... como é que ficamos?
Podemos brincar que o tempo não passou, que somos jovens, inexperientes e cheios de verdades? Ou quem sabe, tomar consciência do que somos, e daquilo que queremos.
Mas você continua como o amor, covarde, tem medo da dor que ele pode ou não causar, e foge. Mesmo tendo a consciência do tempo limitado, falta a ousadia de enfrentar seus próprios hábitos, suas próprias expectativas, mas principalmente enfrentar as minhas expectativas, sem saber, sem nunca ter perguntado quais são elas. Ou saber que simplesmente não tenho expectativas, que serei sempre despojada, que amo a aventura e que meu amor não tem medo.
A covardia do seu amor é poderosa e representa perigo: pode criar oprimido e opressor, não permitindo que nos encontremos com nossos mais profundos desejos.
E não diga que são as coisas da vida, os anos que passaram. O que falta é a coragem de sentir a dor boa do amor no peito. Será que vai partir seu coração outra vez?
E lá se vai mais um dia, mais um ano, e mais uma vez quer fugir, fugir tanto, que pode terminar andando de costas para o sol, assustando-se com uma brisa, julgando ser ela um furação.
Pense na época boa, a época da inconsequência, da audácia de se aventurar, e lembre-se de como foi feliz. Imagino que nessa hora, se conseguir se recordar, apagará a alegria e se apegará apenas à dor, é inevitável, todo fim doi.
Seu amor é covarde porque não entende que nada é para sempre, que se houve uma dor, assim como veio partiu.
Agora nada mais é possível, prefere ficar aí esperando que algo bom venha a acontecer.
Seu amor é covarde, gostaria tanto que se olhasse, e esquecesse o medo. Arrancase sua máscara e que junto dela saisse sua pele, e escorresse sangue , para que você rompa o casulo e seja uma borboleta, e voe... e volte... ou não, apenas para que se redimise do medo. Deixasse de acreditar que o fim é o fim, que quando acabar... acabou; e você foi outra vez feliz. Mas seu amor é covarde e desperdiça o tempo, ao invés de fazer dele algo valioso. O seu amor é covarde, precisa reaprender a viver desde o princípio para outra vez dizer: “não acredito que te encontrei”! E sorrir, e chorar.
Mas você se acomodou ou optou pela mediocridade.
Nunca mais saber dizer com o olhar: “eu te amo”! Na hora de dormir fazer um sexo convencional, que pode até terminar com um selinho na testa ou nos lábios.
O Amor é covarde, seu amor é covarde, ele fez de você alguém que não consegue mais se aventurar. 
É verdade, talvez eu esteja enganada e seja esse o seu sonho...
Não consigo acreditar, já vi seus olhos, encarei seu rosto em frente ao meu e nele consegui ver sua alma. Mas tudo isso você já sabe.

Eu? Fiz a minha escolha, posso viver anos, sem nem mesmo saber o que é viver, e em um único momento, um instante qualquer, descobrir uma vida inteira. Nunca deixarei de mergulhar. E que venham as dores boas de sentir no peito.

Provavelmente como uma vingança espero que nunca se esqueça do momento em que se aventurou comigo.

Madu Dumont

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