APENAS ACONTECEU
Uma
chegada, uma buzinada na partida, um momento, um carinho, fizeram parte de
nosso sonho coletivo, existiram... e nós nem sabíamos que teríamos tudo isso.
Um
grande amor compartilhado dia após dia, e que nos orgulhávamos dele, o nosso
sonho que não foi sonhado, apenas existiu.
Alguns
dias vagueavam em lenta delicadeza, a delicadeza do amor partilhado, mas me
lembro de outros, corridos, loucos, onde dividíamos tarefas e terminávamos mortos,
mas completamente em paz.
De
repente chegava as férias, os feriados e os outros personagens deste sonho, personagens importantes, muito importantes chegavam.
Era
aí que nossos dias se tornavam bem mais que sonho, tornavam-se felicidade, tão
viva que talvez pudéssemos até toca-la. E dávamos nossos melhores sorrisos,
sorrisos não, gargalhadas... e de tudo, o mais gostoso é que ríamos de nós
mesmos. Vivendo a inocência de um sonho infantil, não sonhado – realizado.
Outras
vezes, nos socorríamos, e queríamos o aconchego dos abraços.
Poucos
vão entender o afeto que morava atrás da janela da cozinha e nos chamava de “flôr”.
Menos ainda o surto de gargalhadas por causa de um treze-treze.
Então,
sem aviso, uma ou outra personagem deste sonho subia a montanha, e nós éramos capazes
de dividir as dores.
Lembro-me
do afeto, este sentimento que move o universo, e que nos mantinha cada dia mais
unidos.
Tinha
também uma gostosa brincadeira: quando chegava mais alguém, dizíamos que para
participar deste sonho teriam que subir lentamente, degrau por degrau do amor.
Foi
um sonho que passeou pelas montanhas, encontrou flores, viu algumas auroras e
reverenciou tantas luas.
Sabíamos
a força dos sentimentos e do quanto nós conseguimos conviver com ela. Sem
palavras, liamos nossos olhos e nunca nos enganamos com o que eles diziam.
Com
perplexidade, percebemos que não demoraríamos a acordar. Outra vez a realidade.
Fomos
partindo, um a um, sem permitir que nos morressem as lembranças.
Apenas
não é mais um sonho que viveu no alto de uma montanha, mas habita em uma foto
na parede. Como um suave adeus.
Resta
a certeza de que o amor jamais deixará de existir.
Madu Dumont
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