Não sei quem é você, como você não sabe quem sou, apenas nossas dores se assemelham.
Algumas coisas são inerentes à nossa vontade e nos pegam
desprevenidos ou simplesmente inocentes, e tornam-se inesperadamente de um
tamanho que não conseguimos dimensionar: a dor, a solidão, a morte... mas
também tem a beleza, o sublime e em alguns momentos, a felicidade.
Estranho, que da mesma forma que surgem, nós as
perdemos. Nesse momento resta-nos a poesia pessoal. Chego a perguntar se ela é
suficientemente forte para nos sustentar... Aí descubro como é importante
chorar, chorar muito, pois o processo pelo qual nos tornamos humanos foi
doloroso demais.
Chorar por não poder acreditar tanto, e é tão bom
acreditar... chorar porque em algum momento temos que abrir os olhos para a
realidade, e ela geralmente se finda na maior e mais dolorosa lucidez de nossas
vidas: no sentimento de que tudo que fizemos, desde o nosso primeiro pensamento
que começou ardente, quando éramos fogo, foi se extinguindo e se transformando
em cinzas.
Chorar bastante, chorar muito, por não conseguirmos
amar se não for apaixonadamente. Chorar muito, exageradamente, até os olhos
doerem, porque sabemos que daqui em diante, choraremos muito menos.
Agarrarmo-nos novamente à nossa poesia pessoal e
entender que fomos além porque não tivemos medo. Porque nos aventuramos, não
uma, mas inúmeras vezes. Chorar porque sabemos que vamos nos aventurar outras
vezes, que este medo e esta dor vão passar e serão lembranças ou quem sabe,
esquecimentos.
E outra vez nos agarramos à poesia. Li uma vez: “Pode
haver uma seriedade mais séria que a seriedade poética? Talvez seja este o fio
que nos liga ao universo e nos mantém vivos (ao menos comigo é assim), preciso
da força real da poesia. Preciso dela contra o veneno irreal do supérfluo, do
medíocre.
A dor vai passar, tudo vai passar, e por isso não
podemos fugir quando alguém começar a nos compreender. Não podemos usar como
muleta a cegueira do outro como segurança ou liberdade.
Só precisamos esgotar nossas dores, mergulhar bem no
fundo dela, para que quando conseguirmos emergir, possamos voltar a arder como fogo e
aventurar, e voar, voar bem alto.
Comprei um lindo anel de lápis-lazúli, onde na pedra
tem o desenho de uma fênix. Sei que em breve terei coragem de usá-lo, quem sabe
amanhã, como um símbolo.
Voltaremos a ser as pessoas para quem a liberdade e a
aventura nunca foi demais. Voltaremos a fazer as viagens para as regiões
desdenhadas de nossas almas e faremos as pazes com todos os que somos nós.
Talvez seja isto que desejo a você, alguém que não
conheço, que não sei quem é, que não tenho idéia de como é seu rosto, que nunca
acariciei seus cabelos, nem sei se são macios, mas principalmente, nunca vi a
luz de seus olhos, que pode também vir a ser uma lembrança, ou um esquecimento.
E por favor, não me pergunte por que? Talvez seja apenas mais um capricho da
poesia.
31 de dezembro de 2016 - Feliz Ano Novo
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