segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

INTIMIDADE



NOSSO MUNDO INTERIOR





Acreditei um dia que havia desvendado você, sua intimidade.
Mas o tempo, que sempre foi implacável, a cada dia me mostrava seu mundo interior, diferente daquele que eu acreditava ter descoberto no dia anterior, diferente daquele que eu havia acabado de aprender.
Como me tornei patética diante do sonho, ou da pretensão de desvendar sua intimidade. Hoje tão diferente daquela que se tornou agora...
Então tenho o desejo idiota e insensato de voltar no tempo, de volta para aquele você, que deixei lá atrás e aproveitando; buscar também a mim. Voltar naquele tempo em que intimidade tinha nome de inocência.
Descobri que a intimidade é tão efêmera e ardilosa como uma miragem.
Mais ou menos como se surgissem contornos em uma neblina densa, difusos, que aos poucos vão se tornando possíveis de reconhecer, como quando nossos olhos se adaptam à escuridão e lentamente, vamos encontrando a direção.
Existem histórias que você, o mais íntimo, conta sobre mim. Como existem histórias sobre mim, que conto a você, meu ser mais íntimo.
É difícil distinguir quais são as mais verdadeiras. Quais delas podem refletir melhor nossas intimidades, quais estão mais próximas da verdade? Apesar de eu acreditar que a verdade é apenas um desconhecer que nos habita a alma, travestida de certezas, principalmente no quesito intimidade.
Todos nós temos segredos inconfessáveis, eu e você. Tão inconfessáveis que fingimos esquecê-los. Ou será que os segredos nada têm a ver com a intimidade? Ficam guardados em um lugar difícil de encontrar dentro de nós, intocados e intocáveis.
Será que temos autoridade suficiente para falarmos das intimidades, das suas, das minhas?
Mas em todas essas íntimas histórias, é possível existir mesmo alguma diferença entre verdade e fantasia? Entre o certo e o errado? Entre o agora e o ontem? Será que um dia já conseguimos desvendar o interior de qualquer um de nós dois? E que por mais que venhamos a tentar, chegaremos até o fim? Ou esta viagem será apenas mais uma viagem?
E na nossa mente, onde habita a intimidade, existem fatos? Ou tudo será mais uma invenção, e os supostos fatos o fictício desejo do que gostaríamos de viver?
Continuo sem saber quem somos. Quem sou eu, ou quem é você?
Agora não encontro mais a porta.

Madu Dumont


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