TINHA QUE SER ASSIM, TINHA QUE SER VOCÊ...
...
quanto tempo faz que estou tentando escrever sobre uma noite e não consegui
encontrar a palavra certa para começar.
Minha
primeira atitude foi comprar uma caneta nova, estou ficando a cada dia mais
antiga, não sei olhar para uma tela sem emoção e simplesmente teclar.
Então vou começar por aqui, “uma mulher
antiga” que busca ansiosamente falar de uma noite.
Poderia ter sido uma noite qualquer, como
já havia acontecido outras, mas não, essa foi diferente.
Uma noite de sexo maduro, uma noite de
companheirismo, de lágrimas passadas e presentes, tanto minhas quanto suas, de
sorrisos também, gargalhadas quase a nos levar a rolar de rir.
Uma noite de muito humor sério, de compreensão
e de cumplicidade.
Você chegou, como de outras vezes, com seu
sorriso doce e demonstrando por mim uma admiração que não mereço. Neste momento
eu não tinha certeza do que você pensava, ou trazia dentro de si, mas soube, ao
te olhar, que eu estava para me perder.
Nos últimos anos eu vinha acreditando que
nós, seres humanos, considerávamos o mundo um palco onde o que importava era
nós e nossos desejos. Ver você, sua presença, sua verdade, seu saber (que nem
imagina que sabe), desmontou o palco, os atores se foram, as rotundas desmoronaram,
os holofotes apagaram. Não havia mais um drama ou uma comédia a serem
encenados. Histórias tristes ou cômicas de nossas fantasias.
Como foi comovente este momento! Como foi
inevitável!
Começamos com a poesia, da poesia fomos
abrindo caminhos para nossas dores, toquei suas lágrimas e você tocou as
minhas, mas sempre repletas de poesia.
Senti vontade de me afogar no azul dos seus
olhos. Ainda estou lá, serena.
Nunca havia visto seu rosto com tantos
detalhes; jamais o esquecerei, sei que provavelmente não esquecerá o meu.
Meu corpo que a tanto tempo me incomodava,
voltou a ser aquele de vinte anos atrás e me vi rolando, sem vergonha ou pudor,
acariciando e sendo acariciada, tocando e sendo tocada, nos meus seios, no meu
sexo. E ainda havia os nossos beijos que pareciam eternos.
Concentramo-nos no aqui e agora, captando o
que era essencial. Só assim pudemos nos mover, seguros, tranquilos, com o humor
adequado, a melancolia adequada, na fascinante paisagem do tempo que já foi vivido
e no espaço do que estávamos sendo agora.
A brincadeira, depois de tanta densidade de
prazeres, nos propiciou a leveza de cozinharmos juntos, e seminus, entre um ovo
e uma cebola, nos tocávamos mais, e nossos olhares luminosos se encontraram e
não resistimos outra vez ao prazer, que buscamos em uma loucura ainda mais intensa
e perdemos nosso jantar no forno.
Nessa noite não nos procuramos, era como se
nunca houvéssemos sabido um do outro; e como foi esplêndido quando percebemos
que nos encontramos.
Em um momento não sabíamos nada, no momento
seguinte sentimos que não precisávamos procurar ou encontrar nada, estávamos alí,
e isso era tudo.
Quando senti seu corpo sobre o meu, vi o
rosto de um homem, talvez bem mais que um homem, um ser, um macho e compreendi
que só poderia ter acontecido assim.
Era quando você me dizia para abraça-lo que
eu prendia minhas mãos em seu dorso, e sentia nos meus dedos seu corpo
completamente meu, inteiro... pele, carne, ossos, emoção, sentimentos,
verdades, tudo completamente meu.
Você dentro de mim e eu me sentindo dentro
de você. Compreendi porque a espera foi tão longa: tinha que ser assim, tinha
que ser você, doce e violento. Nem a música nos podia fazer companhia, precisávamos
ouvir nossa respiração.
Tenho a sensação de que seu corpo nunca
mais sairá do meu abraço, das minhas mãos, ele ainda está aqui enquanto
escrevo, seu sexo ainda está dentro do meu enquanto escrevo.
Não sei nada, não tenho verdades, mas tenho
desejos. Não sei se poderei sentir tanto afeto (que aqui vai muito além do
amor), mas tinha que ser assim.
Depois carinhos, mais desejos, mais
poesias, e essa avidez incontrolável que fez de mim mulher outra vez e de você
um homem inteiro para mim.
Escrevi esse longo texto pretensiosamente no
plural, agora penso que essa verdade foi o meu sentir, não sei como é para
você.
Eu, não sabia o que me faltava, até que
essa falta, essa ausência, apareceu na minha frente. Sem pensar, subitamente
tive a certeza que era tudo isso.
A plenitude dessa noite jamais me
abandonará, não sei se consegue se recordar, mas por duas vezes deixei a porta
aberta. Tanto pode partir, como pode voltar... eu lhe disse.
Saiba que tenho a convicção de que me fez
mulher de uma maneira que até então eu não conhecia. Se voltar, além do prazer
que trocamos, farei de você um homem feliz, sem me importar por quanto tempo,
nadando em nossas lágrimas, ou rolando em nossas gargalhadas.
Ofereço a você, um ovo, uma cebola, meus
beijos, meu corpo inteiro e de todas as maneiras, mas acima de tudo, ofereço
minha esperança.
Madu Dumont
Madu Dumont
Interessante! o sexo entre duas pessoas maduras, descrito com sutileza.
ResponderExcluirInteressante! o sexo entre duas pessoas maduras, descrito com sutileza.
ResponderExcluirÉ gratificante a quem escreve, ter uma resposta de seu texto. Pois o que escrevemos não deixa de ser um pouquinho de nós.
ResponderExcluirObrigada