domingo, 18 de dezembro de 2016

SÓ PODERIA TER ACONTECIDO ASSIM...


TINHA QUE SER ASSIM, TINHA QUE SER VOCÊ...



... quanto tempo faz que estou tentando escrever sobre uma noite e não consegui encontrar a palavra certa para começar.
Minha primeira atitude foi comprar uma caneta nova, estou ficando a cada dia mais antiga, não sei olhar para uma tela sem emoção e simplesmente teclar.
Então vou começar por aqui, “uma mulher antiga” que busca ansiosamente falar de uma noite.
Poderia ter sido uma noite qualquer, como já havia acontecido outras, mas não, essa foi diferente.
Uma noite de sexo maduro, uma noite de companheirismo, de lágrimas passadas e presentes, tanto minhas quanto suas, de sorrisos também, gargalhadas quase a nos levar a rolar de rir.
Uma noite de muito humor sério, de compreensão e de cumplicidade.
Você chegou, como de outras vezes, com seu sorriso doce e demonstrando por mim uma admiração que não mereço. Neste momento eu não tinha certeza do que você pensava, ou trazia dentro de si, mas soube, ao te olhar, que eu estava para me perder.
Nos últimos anos eu vinha acreditando que nós, seres humanos, considerávamos o mundo um palco onde o que importava era nós e nossos desejos. Ver você, sua presença, sua verdade, seu saber (que nem imagina que sabe), desmontou o palco, os atores se foram, as rotundas desmoronaram, os holofotes apagaram. Não havia mais um drama ou uma comédia a serem encenados. Histórias tristes ou cômicas de nossas fantasias.
Como foi comovente este momento! Como foi inevitável!
Começamos com a poesia, da poesia fomos abrindo caminhos para nossas dores, toquei suas lágrimas e você tocou as minhas, mas sempre repletas de poesia.
Senti vontade de me afogar no azul dos seus olhos. Ainda estou lá, serena.
Nunca havia visto seu rosto com tantos detalhes; jamais o esquecerei, sei que provavelmente não esquecerá o meu.
Meu corpo que a tanto tempo me incomodava, voltou a ser aquele de vinte anos atrás e me vi rolando, sem vergonha ou pudor, acariciando e sendo acariciada, tocando e sendo tocada, nos meus seios, no meu sexo. E ainda havia os nossos beijos que pareciam eternos.
Concentramo-nos no aqui e agora, captando o que era essencial. Só assim pudemos nos mover, seguros, tranquilos, com o humor adequado, a melancolia adequada, na fascinante paisagem do tempo que já foi vivido e no espaço do que estávamos sendo agora.
A brincadeira, depois de tanta densidade de prazeres, nos propiciou a leveza de cozinharmos juntos, e seminus, entre um ovo e uma cebola, nos tocávamos mais, e nossos olhares luminosos se encontraram e não resistimos outra vez ao prazer, que buscamos em uma loucura ainda mais intensa e perdemos nosso jantar no forno.
Nessa noite não nos procuramos, era como se nunca houvéssemos sabido um do outro; e como foi esplêndido quando percebemos que nos encontramos.
Em um momento não sabíamos nada, no momento seguinte sentimos que não precisávamos procurar ou encontrar nada, estávamos alí, e isso era tudo.
Quando senti seu corpo sobre o meu, vi o rosto de um homem, talvez bem mais que um homem, um ser, um macho e compreendi que só poderia ter acontecido assim.
Era quando você me dizia para abraça-lo que eu prendia minhas mãos em seu dorso, e sentia nos meus dedos seu corpo completamente meu, inteiro... pele, carne, ossos, emoção, sentimentos, verdades, tudo completamente meu.
Você dentro de mim e eu me sentindo dentro de você. Compreendi porque a espera foi tão longa: tinha que ser assim, tinha que ser você, doce e violento. Nem a música nos podia fazer companhia, precisávamos ouvir nossa respiração.
Tenho a sensação de que seu corpo nunca mais sairá do meu abraço, das minhas mãos, ele ainda está aqui enquanto escrevo, seu sexo ainda está dentro do meu enquanto escrevo.
Não sei nada, não tenho verdades, mas tenho desejos. Não sei se poderei sentir tanto afeto (que aqui vai muito além do amor), mas tinha que ser assim.
Depois carinhos, mais desejos, mais poesias, e essa avidez incontrolável que fez de mim mulher outra vez e de você um homem inteiro para mim.
Escrevi esse longo texto pretensiosamente no plural, agora penso que essa verdade foi o meu sentir, não sei como é para você.
Eu, não sabia o que me faltava, até que essa falta, essa ausência, apareceu na minha frente. Sem pensar, subitamente tive a certeza que era tudo isso.
A plenitude dessa noite jamais me abandonará, não sei se consegue se recordar, mas por duas vezes deixei a porta aberta. Tanto pode partir, como pode voltar... eu lhe disse.
Saiba que tenho a convicção de que me fez mulher de uma maneira que até então eu não conhecia. Se voltar, além do prazer que trocamos, farei de você um homem feliz, sem me importar por quanto tempo, nadando em nossas lágrimas, ou rolando em nossas gargalhadas.
Ofereço a você, um ovo, uma cebola, meus beijos, meu corpo inteiro e de todas as maneiras, mas acima de tudo, ofereço minha esperança. 

Madu Dumont

3 comentários:

  1. Interessante! o sexo entre duas pessoas maduras, descrito com sutileza.

    ResponderExcluir
  2. Interessante! o sexo entre duas pessoas maduras, descrito com sutileza.

    ResponderExcluir
  3. É gratificante a quem escreve, ter uma resposta de seu texto. Pois o que escrevemos não deixa de ser um pouquinho de nós.
    Obrigada

    ResponderExcluir