domingo, 27 de novembro de 2016

UM HOMEM, UMA TARDE, UM AMOR MUDO.



LUIS FERNANDO,


E de repente me sentia capaz de olhar para dentro de você. Senti como uma revelação. Uma revelação que fez nascer uma esperança.

Era a esperança de reunir milhões de fragmentos compartilhados, sem necessidade de palavras. Compartilhados quase que como uma distância próxima.
Você não sabia naquela tarde, como eu não sei ainda hoje, que havia pessoas que poderiam compreender tão rapidamente o que ia dentro da alma do outro, provavelmente intuitivo, ou simplesmente pelo olhar.
Apenas compreendi que estar perto de você, lhe vendo mais do que eu imaginava que poderia, sem saber sequer quem era você, seria uma corrida atrás do vento.
Aquilo que consegui ver na sua alma, eu não lhe podia revelar, ainda não, não naquele tempo, naquela tarde. As suas e as minhas fragilidades, nossas dúvidas, nossos medos latentes e profundos... era cedo demais.
Nós não podíamos extrair a visão que tiramos do nosso interior, nem uma delas. Mas, como tudo que não se pode explicar eu sabia, e você também sabia.
Sem entender, no entanto, tudo de repente era diferente, não reparei se havia crianças jogando bola, não reparei no homem sentado à mesa do bar e que não merecia mesmo ser reparado.
A relva do caminho era diferente, ela era nativa e eu via uma luz, que me lembrava a luz do sol do amanhecer, aquela que tem um brilho especial. Era como se ela tocasse através dass minha mãos, diretamente dentro da sua dor. Essa luz, e esse carinho, iluminou sua dor e a tornou mais leve, ou mais forte, não sei dizer.
A porta da coragem ainda não havia se aberto atrás de nós.
Nessa hora fiquei curiosa em ver como era seu rosto, acho que faz mais de dez anos, e esta foi
a única vez que o vi, porque seu olhar era desimpedido.

E no palco vazio de nossas solidões compartilhadas por tão doce instante, mergulhamos naquela luz e encontramos um amor mudo, sem rebaixá-lo à condição de nada, apenas um amor mudo.
Um amor que venceu a distância, e o tempo, o não reconhecermos nossos rostos, o nunca mais acariciar com as mãos uma dor.

O amor mudo foi e será sempre, o amor que nunca morreu.

Obrigada Luis Fernando...


Madu Dumont

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