LUIS FERNANDO,
E de repente
me sentia capaz de olhar para dentro de você. Senti como uma revelação. Uma
revelação que fez nascer uma esperança.
Era a
esperança de reunir milhões de fragmentos compartilhados, sem necessidade de
palavras. Compartilhados quase que como uma distância próxima.
Você não
sabia naquela tarde, como eu não sei ainda hoje, que havia pessoas que poderiam
compreender tão rapidamente o que ia dentro da alma do outro, provavelmente
intuitivo, ou simplesmente pelo olhar.
Apenas compreendi
que estar perto de você, lhe vendo mais do que eu imaginava que poderia, sem
saber sequer quem era você, seria uma corrida atrás do vento.
Aquilo que
consegui ver na sua alma, eu não lhe podia revelar, ainda não, não naquele
tempo, naquela tarde. As suas e as minhas fragilidades, nossas dúvidas, nossos
medos latentes e profundos... era cedo demais.
Nós não
podíamos extrair a visão que tiramos do nosso interior, nem uma delas. Mas, como
tudo que não se pode explicar eu sabia, e você também sabia.
Sem entender,
no entanto, tudo de repente era diferente, não reparei se havia crianças
jogando bola, não reparei no homem sentado à mesa do bar e que não merecia
mesmo ser reparado.
A relva do
caminho era diferente, ela era nativa e eu via uma luz, que me lembrava a luz
do sol do amanhecer, aquela que tem um brilho especial. Era como se ela
tocasse através dass minha mãos, diretamente dentro da sua dor. Essa luz, e esse carinho, iluminou sua dor e a tornou mais leve, ou mais forte,
não sei dizer.
A porta da
coragem ainda não havia se aberto atrás de nós.
Nessa hora fiquei
curiosa em ver como era seu rosto, acho que faz mais de dez anos, e esta foi
a
única vez que o vi, porque seu olhar era desimpedido.
E no palco
vazio de nossas solidões compartilhadas por tão doce instante, mergulhamos
naquela luz e encontramos um amor mudo, sem rebaixá-lo à condição de nada,
apenas um amor mudo.
Um amor que venceu a distância, e o tempo, o não reconhecermos nossos rostos, o nunca mais
acariciar com as mãos uma dor.
O amor mudo
foi e será sempre, o amor que nunca morreu.
Obrigada Luis Fernando...
Madu Dumont
Madu Dumont
Nenhum comentário:
Postar um comentário