Os
sentimentos estão longe de serem tangíveis e dizíveis quanto pretendemos crer.
A maior parte dos sentimentos são inexprimíveis e ocorrem em um espaço onde
nenhuma palavra alcança.
Nós sempre
olhamos para fora, para o outro – que não nos pode ajudar. Existe apenas um
caminho para “o sentir”, e é entrar em nós mesmos. Escavar dentro de nós uma
resposta profunda, sem nos esquecer que é exatamente nas coisas mais profundas
e importantes que estamos indizivelmente sós.
Nenhum
homem pode responder às perguntas e aos sentimentos que têm vida própria em sua
alma.
Não podemos
buscar respostas que não podem nos ser dadas, porque não as saberemos viver.
GOSTAR
O gostar
desperta o desejo que é uma experiência dos sentidos, análoga ao simples olhar
ou ao gosto da fruta madura que adoça a boca. É uma grande experiência que nos
é doada, um conhecimento do outro, o esplendor, o saber. O mal não está em
aceitar este sentir, o mal está em abusar desta experiência.
A criação
intelectual, se é que posso fazer essa comparação, a poesia, a prosa, provém
também desse desejo carnal. Tem a mesma essência, é apenas uma repetição
silenciosa, elevada e eterna do desejo do corpo.
O gostar
evoca o futuro, mesmo que se estejamos enganados quanto e sobre o objeto do
sentir, mesmo que estejamos cegos. O futuro virá, seja ele qual for.
Gostar é
nos mostrarmos calmos e serenos, sem atormentar a nós e ao outro com nossas
dúvidas. Nem nos assustarmos com alguma confiança ou meras alegrias, que jamais
poderemos compreender.
PAIXÃO
Na paixão
há as noites e os ventos que passam pelas cidades e percorrem um longo e
desesperado caminho.
Na paixão
nos sentamos à beira de um precipício e acabamos nos atirando, acreditando que
basta um vento para nos salvar em um redemoinho de irracionalidade.
Na paixão
alguém nos possui; e nos perde, sempre perde, e nós perdemos também.
Na paixão
aquele que teve pode ser por “ele” perdido. Será o futuro; o fruto final de uma
árvore onde somos a folha.
Como as
abelhas reúnem o mel, tiramos o que há de mais doce no outro para construir a
paixão e nos perdemos nela.
Começamos
pelo menor, pelo apenas intuitivo, depois pelo desespero e pelo grito, e talvez
por uma alegria compartilhada e superestimada em tudo que fazemos.
Na paixão
mora a impaciência, o poder, o egoísmo.
Na paixão
nos deixamos enganar pela solidão, apenas por existir algo dentro de nós que
quer desesperadamente deixa-la.
AMOR
“O amor é
fogo que arde sem se ver; é ferida que dói e não se sente; é um contentamento
descontente; é dor que desatina sem doer.”
Luis de
Camões
Amar é bom:
porque o amor é difícil. Amar talvez seja a tarefa mais árdua que nos foi
imposta pela vida, a maior prova, o desfecho onde todo o resto foi apenas uma
preparação.
Para amar é
preciso aprender com nosso ser mais profundo, nossas forças concentradas, nosso
coração temeroso, (se é que se ama com o coração).
O amor não
é entregar-se, confundir-se à outra pessoa, o amor é tornar-se humano em nós
mesmos, é nos transformar em nosso próprio mundo, mas que esse mundo seja maior
e melhor, por causa do objeto do nosso amor.
O amor é
atirarmos um ao outro, sem nunca esquecermos, de nos delimitar, de nos
distinguir.
O mais
difícil do amor é que não existe uma regra, uma solução ou um caminho.
O amor deve
constituir-se em mútua proteção, limitação ou simplesmente no encontro de duas
solidões humanas.
O amor só
perdura quando fazemos a novidade viver em nós, nos acrescentamos, e que isso
faça parte do mais íntimo de cada um.
O amor
perdura quando corre no sangue a emoção de gostar, a loucura de apaixonar e a
liberdade de sentir.
Reconheço
que o amor nasce e sai de dentro de nós independente de onde ou a quem vai
encontrar. Algo acontece em nós, a vida não nos esquece, nos segura pela mão e
não nos deixa cair.
O amor se
doa na medida certa, consegue dar um passo atrás para esperar o outro, quando
ele não é tão rápido. No amor enxergamos além de nós mesmos, sem deixar de nos
pertencer.
Só o amor
ri das impossibilidades.
Talvez todo
o medo que o amor inspira não passe de um desamparo que implora por auxílio.
Madu Dumont
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