sexta-feira, 11 de novembro de 2016

CARTA A UM AMOR PERDIDO


                                                                      Frederico


Vivo agora um profundo retorno à solidão. Uma solidão que, na verdade, nunca deixou de existir. Uma solidão camuflada sobre amores fugazes e que era entorpecida por um único e verdadeiro sentimento de amor. E era este sentimento que me fazia crer na raça humana, que me fazia acreditar que uma noite, uma árvore e a lua, pudessem significar uma vida.
E é no momento em que me sinto traída nesta fé que a solidão toma proporções ainda maiores.
Tento, e acredito, que nesta existência, devo ser coerente e que esta coerência é fundamental para direcionar minha vida, mas basta uma lembrança para que toda esta determinação seja destruída e meu coração seja capaz de anular completamente a razão. Então, só posso pensar na noite, na árvore e na lua.
Não me lembro de nem uma vez em que tenha me agarrado tanto às entranhas da dor. Sinto-me como que obrigada a manter todas as dores dentro de minhas lembranças, para não seguir do instante em que tudo se transformou e continuar, ignorando o futuro que já conheço e prevejo.
Em instantes, tudo que acreditei ter construído, partiu-se em milhões de fragmentos. Não posso esconder os cacos de mim que estão espalhados em minha frente. Mas ao recolher meus cacos, sinto que eles penetram pela minha pele, sinto o sangue escorrendo, tenho ganas de abandonar tudo, então a razão grita: chega!
Até onde pode ir um amor? Imagino este limite próximo ao “amor-próprio”. Falta coragem, não sei se para recolher meus cacos, ou fugir desesperadamente, buscando o ponto de ruptura, colando antes de estilhaçar.
Hoje não é a fé no homem ou no amor que me governa, mas um enorme conflito entre amor e ódio é que me faz respirar. Percebo, então, que nem as asas da minha própria liberdade eu possuo mais. Se é verdade que eu dia eu as tive e soube voar.
Estou vazia na emoção e na perspectiva. Penso se é possível continuar sem fé, sem acreditar na possibilidade de amor entre um homem e uma mulher, sabendo que o amor existe e domina minha alma e meu corpo.
Como conseguir seguir qualquer caminho, seja ele qual for, se minha maneira de amar, meu direito sobre minha própria vida e minhas condições de sobrevivência estão completamente violadas? Como serei capaz de me recuperar desta mutilação afetiva, que tipo de lagarta sou eu?
Eu que me descubro agora, debatendo desesperadamente contra a correnteza, para me manter como sempre fui, crédula.
Eu que um dia consegui amar e ser amada.
Enche-me de medo encontrar esta mulher que vejo no espelho, esta nova mulher que nasce do conflito do amor e do ódio, lembrança, prazer, ausência, alegria, tristezas...
Quem será esta mulher?
Eu continuo me desejando crendo na noite, na árvore, na lua, mas aquela mulher não ouve mais meu coração, eu grito e ela não vem. Está ficando lá atrás e é assustador continuar sem ela. Não tenho norte, e seja qual for o caminho, ela não me acompanha. Sinto-me abandonada por mim, como se minha sombra se apagasse. Será que aquela que eu fui morreu, ou a minha mutilação me impede de caminhar? Se realmente perdi a fé, é o que de mais triste me aconteceu e ao mesmo tempo, queria entender essa mulher que eu era, a que ficou no caminho, busca-la, para que agora eu não transforme a solidão em minha companheira.
Mas acredito que o que mais odeio é que vou continuar sem ela. Provavelmente essa que era eu não sobreviverá à mutilação, ficarei apenas eu.
Talvez agora eu seja uma camaleoa e à medida que minha alma vai se refazendo da fé perdida, vou me transmutando em outras mulheres. Carregar um corpo mutilado me cansa.
Meus passos agora são lentos, na esperança de que aquela que eu fui me siga, mas meu medo maior é saber que, com o passar do tempo, ela vai ficar esquecida e provavelmente nunca me alcançará novamente. Então não tem mais volta.
Agora não quero ajuda.
Não acredito mais nas pegadas que indicam o caminho.
Adeus.
 Resultado de imagem para imagens de fim de um amor


Madu Dumont

Um comentário:

  1. Este comentário foi postado na página do Facebook por Jesus Caetano, que não soube como colocá-lo aqui.
    Já conheci pessoas que este poema cairia tão bem,tambem pareço ter vivido o fato remoendo em uma moenda e sair sem rumo catando os bagaços da vida para poder reviver outro amor,
    Foto de Jesus Caetano.

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