sábado, 25 de março de 2017

SOU ASSIM...


UM POUCO DE MIM, UM POUCO DE VOCÊ, UM POUCO DE TODOS NÓS


Sou cada instante do meu tempo. Movimento do ar. Gota de água no mar, rajada de vento.
Conheço todas as teorias, nunca dominei as técnicas.
... Duas de mim ... Cinco de mim ... outras vezes, dez de mim. Sou uma por dia, ou por hora em cada noite de insônia, sou todos os instantes dos meus sonhos.
Em alguns momentos, vivo, esperneio, choro, agrido, em outros me arrependo e me transformo em você, sua calma, sua razão. tem horas que sou tão profundamente eu, que me dói tudo, nessa hora eu grito, um grito agudo, forte, longo, quase um uivar e mostro ao mundo toda minha dor.
Sou assim... cada separação e todos os encontros. Quadrado e círculo, música e silêncio. Sou a chuva molhando a terra, mas também sou o sol que faz arder a pele.
Sou dona do mundo, altiva, segura, destemida. Sou assim... várias de mim, sou cada beijo, cada toque, cada lambida, cada carinho, cada desmaiar de prazer, sou o suor que escorre, sou sexo, sou fogo, devoro o prazer.
Sou o filho que tive e a aridez do meu ventre. Sou várias de mim... duas... três... às vezes cinco... Então rasgo meus segredos inconfessáveis, pico em milhões de fragmentos de papel antigo e descubro que em cada pedaço mora uma poesia.
Sou assim... é assim que me exponho. Sinto medo, muito medo, sem defesa ou reservas, pois vivo na poesia, mas ninguém me encontra lá.
Sou dogma e mentira, a beleza e o poder do fogo, mas é com o gelo que eu quero queimar.




Sou fábulas, musgos, casebres e castelos. Sou assim... sou dama e sou puta, santa e canalha.
Sorrio por fora, por dentro um turbilhão de pensamentos, de possibilidades.
Explico detalhes que não devia me lembrar, mas não esqueço nada, não consigo esquecer toda dor do mundo. Sou a servidão e o tirano. Sou boazinha, mas sei muito bem manejar a faca. 
Sou o ontem , o hoje e a véspera.
Sou os livros que li e as páginas que ainda não abri.
No rosto nunca um sofrimento, no corpo uma explosão de prazer, porque sou o amor, o mais puro, verdadeiro, profundo. Sou o amor da minha mãe, da minha filha... Mas outra de mim é o amor de meu homem, que geme e grita, que desfalece de gozo. Sou aquela que tudo pode.
É melhor não me conhecer, fique com minhas letras, com as quais eu formo as palavras que quero, fique com minhas palavras, pois costumo transformá-las em poesia. Sou assim... Sou mil de mim e quem ficou por perto viu o fogo se espalhar. Nasci e renasci tantas vezes até perder as contas.
Fui ao olimpo, mas desci ao centro da terra. Não entendo como ainda consigo ter um lápis na mão.
E em um instante parece que meus ossos vão se desfazer em cinzas, mas vejo uma mulher inteira no espelho. Uma mulher capaz de pegar uma espada e cortar o ar. Sou a liberdade de ser.
Sou assim... os olhos do meu mundo e minha mais completa escuridão.
Não me olhe nos olhos, posso cegar os seus.
Sou assim... Faço amor até desfalecer, e quando desfaleço, quero mais.
Sou assim, sou mulher, sou amor, sou tudo, estou em tudo e o tudo mora em mim. 
Sou assim...


Madu Dumont

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