quinta-feira, 10 de outubro de 2019

CÉU E TERRA







Me sinto nua em meio à multidão, sinto medo e me transformo ora em serpente, ora em pássaro.
Não imaginava encontrar você em minha loucura.
Percebo sua presença, sua mente, tudo permeando minha existência.
Como um ecoar constante entre céu e terra.
Meu corpo se cansa de ser um enigma. E como mágica fluímos um para dentro do outro, entrelaçamo-nos.
Somos fugitivos de um passado doloroso, só nos reencontramos para forjar a unidade perdida.
Escrevo páginas de sonhos.
Tenho medo de tudo em minha fragilidade...
O primeiro arrepio do mistério sensual. O céu entre nós e a terra – o prazer.
Nem uma luz demasiadamente viva, nem a obscuridade completa.
Cada um de nós possui sua alma própria, e como eu, você vagueia, se perde, explora, dissolve, me esquece.

AINDA ATUAL



ENTÃO CHEGAMOS LÁ 







De repente, quando ela resolveu falar do amor, era como se pertencesse a um outro mundo, insuportavelmente vazio, regido por critérios pelos quais ela só podia sentir desprezo.
Ainda era uma mulher, seu desejo ainda era latente, sua alma também pulsava como quando tinha vinte anos, ou pulsava muito mais, pois tinha consciência de quanto agora seria mais difícil, seus amores, suas fantasias... 
Aquele corpo repleto de marcas do tempo, não havia envelhecido nem um único dia no prazer.
Das inúmeras experiências que viveu, conseguia agora traduzir em apenas uma palavra fortuita e sem o merecido cuidado: velhice. Mas foram essas experiências mudas, algumas ocultas, outras imperceptíveis, que deram à sua vida forma, colorido e melodia.
Os pensamentos se deslizam para fora de sua vivência e o que resta neste papel é um sem número de contradições, de preconceitos. Ela chega a acreditar que isso é um defeito, algo que devia ser esquecido: o desejo do prazer.
Talvez o tamanho deste desconcerto entre o desejo, a fantasia, o amor e preconceito (muitas vezes pessoal) é o tamanho, a maneira exata para compreender essa experiência do corpo e da alma, ao mesmo tempo conhecida e enigmática.
Então se é verdade tudo que acontece dentro dela e que só pode viver uma pequena parte, a dúvida permanece: O que fazer com o resto? 
Tem a sensação de que pela primeira vez está atenta e lúcida com relação a ela mesma, ao seu mundo mágico e ainda juvenil no seu interior.
Sentia-se como se houvesse embarcado em um avião para, poucas horas depois, aterrissar em um mundo externo completamente diferente, sem ter tido tempo de absorver as imagens que passaram durante o longo caminho.
É uma mulher, uma mulher que não suporta pensar que todas aquelas marcas, as das dores, as dos amores, as mais profundas, assim como as mais superficiais, tenham sido em vão. A pele do seu rosto, seus seios, os cabelos brancos que agora além da cabeça, nascem no sexo, a barriga um pouco mais volumosa...
As imagens nas vitrines desse mundo moderno, são grandes e nítidas, mas do outro lado do vidro, ela não tem como não sentir orgulho de ser quem é, de ser como é.
Os homens, não a olham mais, os vendedores a chamam de senhora, as crianças de tia ou vovó.
A família espera o bolo de banana, que era receita de sua não se sabe qual tataravó... Mas ela sabe, tem certeza, que seu lugar não é o forno, que seu desejo não é a gritaria das crianças.
Seu desejo é sexo, amor, toque, um longo beijo na boca, como se tivesse sido o primeiro, um abraço cheio do tesão igual àquele quando sua carne era dura, mas seu universo interno quase nada sabia do amor.
Hoje ela sabe tudo, dar e receber afeto, hoje não existe mais pudor, hoje não é mais o sexo pelo sexo, hoje é o sexo que foi para sempre, aquele que esteve guardado por tanto tempo nas cicatrizes de sua pele.
Hoje ela sabe ser completa, sente o sangue de seu homem, aquele que não está mais alí, correr nas suas veias, mesmo quando está acendendo a luz do forno para determinar o ponto do bolo, da tataravó, da avó, que tem certeza, também desejavam determinar, ao invés do calor do forno, o calor do sexo de seu homem.
Agora ela sabe mais que tudo, que não tem a menor ideia de como será essa coisa do desejo de viver um amor novo, em uma época que não conhece mais. Só sabe que não cabe nenhum adiamento. seu tempo está bem mais próximo do fim, do que do início, e pode ser que não reste muito.
Agora já não é entre milhões de pedras preciosas que abriria a porta do palácio de seus sonhos, mas sabia que podia ser a libertação de uma imagem de si mesma, aquela que na vitrine mostrava seus limites.
Será que há um mistério sob a superfície da vida humana? Ou as pessoas são exatamente como se revelam através de suas ações.
Está resolvida, tudo completamente claro, não precisa de bagagem, não precisa de nada que não seja apenas ela mesma, nem dinheiro, nem realidade, nem família, nem problemas, nem soluções.
O circo chegou à cidade, pobre, pequeno, o fotógrafo tirou uma foto dela, mostrou em um monóculo, sorriu e gostou da imagem que viu. Foi aí que ela decidiu, de uma vez por todas, e para sempre, fugir com o circo, exatamente como sonhou na infância: Pois o palhaço quem é? É ladrão de mulher...

Madu Dumont


sexta-feira, 8 de junho de 2018

MADU DUMONT - CARTAS E POEMAS AO AMOR:                                                   ...

MADU DUMONT - CARTAS E POEMAS AO AMOR:                                                   ...:                                                                                                                                          ...

                                                                      

                                                                      Desconhecido




Abro minhas mãos e meu coração ao mais novo desconhecido. Revelo sem receio o que chamo de alma, e sem pudor desfio meus segredos.

Vasculho sua alma, tento conhecer seus segredos e com uma ternura cúmplice, faz-se trégua a meus medos.

A importância deste encontro é medida por encantamento. Os acasos se tornam estigmas do destino.
Sigo caminhando de inesperado a inesperado buscando uma memória ou um sonho, que vive à flor da pele e da consciência. Sonhos e memórias que me agasalham e me cobrem.

Uma doçura esquecida fatigava meu coração.
E nos libertei, arriscando-me na aventura da ventura que a ternura contém.

Seus prazeres entendem os meus; meus prazeres entendem os seus e na vastidão impressionante de nossos diversos mundos conseguimos brincar com a felicidade.

Nasce um misto de fulgor e instinto, ou a história de viver, amar e morrer. 

Madu Dumont

terça-feira, 25 de julho de 2017

CARTA SOBRE UM SONHO PERDIDO



QUE ESPÉCIE DE LAGARTA SOU EU?



Vivo agora um profundo retorno à solidão. Uma solidão que, na verdade, nunca deixou de existir. Uma solidão camuflada sobre amores fugazes e que agora havia sido entorpecida por um único e verdadeiro sentimento de afeto e respeito, além de um forte e maravilhoso desejo. E era este sentimento que me fazia crer que ainda poderia ser feliz, que me fazia acreditar que uma noite, uma árvore e a lua, pudessem significar uma vida.
E é no momento em que me sinto traída nesta fé que a solidão toma proporções ainda maiores.
Tento, e acredito, que nesta existência, devo ser coerente e que esta coerência é fundamental para direcionar minha vida, mas basta uma lembrança para que toda esta determinação seja destruída e meu coração seja capaz de anular completamente a razão. Então, só posso pensar na noite, na árvore e na lua.
Sinto-me como que obrigada a manter todas as dores dentro de minhas lembranças, para não seguir do instante em que tudo se transformou e continuar, ignorando o futuro que já conheço e prevejo.
Em instantes, tudo que acreditei estar construindo, partiu-se em milhões de fragmentos. Não posso esconder os cacos de mim que estão espalhados em minha frente. Mas ao recolher meus cacos, sinto que eles penetram pela minha pele, sinto o sangue escorrendo, tenho ganas de abandonar tudo, então a razão grita: chega!
Até onde pode ir um desejo, o respeito e o afeto por outra pessoa, a esperança depositada no sonho de ser feliz? Imagino este limite próximo ao “amor-próprio”. Falta coragem, não sei se para recolher meus cacos, ou fugir desesperadamente, buscando o ponto de ruptura, colando antes de estilhaçar.
Hoje não é a fé no homem ou no amor que me governa, mas um enorme conflito entre  sonho e desesperança é que me faz respirar. Percebo, então, que nem as asas da minha própria liberdade eu possuo mais. Se é verdade que eu dia eu as tive e soube voar.
Estou vazia na emoção e na perspectiva. Penso se é possível continuar sem fé, sem acreditar na possibilidade de amor entre um homem e uma mulher, sabendo que o amor existe, que um dia o experimentei e agora acreditei que ele poderia surgir novamente.
Como conseguir seguir qualquer caminho, seja ele qual for, se  meu direito sobre minha própria vida e minhas condições de sobrevivência estão completamente violadas? Como serei capaz de me recuperar desta mutilação afetiva, que tipo de lagarta sou eu?
Eu que me descubro agora, debatendo desesperadamente contra a correnteza, para me manter como sempre fui, crédula.
Eu que um dia consegui amar e ser amada.
Enche-me de medo encontrar esta mulher que vejo no espelho, esta nova mulher que nasce deste conflito, lembrança, prazer, ausência, alegria, tristezas...
Quem será esta mulher?
Eu continuo me desejando crendo na noite, na árvore, na lua, mas aquela mulher não ouve mais meu coração, eu grito e ela não vem. Está ficando lá atrás e é assustador continuar sem ela. Não tenho norte, e seja qual for o caminho, ela não me acompanha. Sinto-me abandonada por mim, como se minha sombra se apagasse. Será que aquela que eu fui morreu, ou a minha mutilação me impede de caminhar? Se realmente perdi a fé, é o que de mais triste me aconteceu e ao mesmo tempo, queria entender essa mulher que eu era, a que ficou no caminho, busca-la, para que agora eu não transforme a solidão em minha companheira.
Mas acredito que o que mais odeio é que vou continuar sem ela. Provavelmente essa que era eu não sobreviverá à mutilação, ficarei apenas eu.
Talvez agora eu seja uma camaleoa e à medida que minha alma vai se refazendo da fé perdida, vou me transmutando em outras mulheres. Carregar um corpo mutilado me cansa.
Meus passos agora são lentos, na esperança de que aquela que eu fui me siga, mas meu medo maior é saber que, com o passar do tempo, ela vai ficar esquecida e provavelmente nunca me alcançará novamente.
Agora não quero ajuda.
Não acredito mais nas pegadas que indicam o caminho.
Gosto de você e vou gostar sempre, pois o admiro como homem e como ser-humano.
Beijos

        

domingo, 28 de maio de 2017

PARA VOCÊ QUE CHEGOU AGORA



Sim. Nós sobrevivemos. 



Ninguém morre de amor, mas ficamos moribundos por um tempo e vamos caminhando com passos tortos, e mesmo depois disto, não sabemos ao certo se estamos prontos para o novo, sem revisar o passado.
Já vivemos tantas verdades incompletas, tantos desejos camuflados, tantas fugas de nosso mundo interno, que chegamos a acreditar que ele fosse invisível aos nossos olhos.
Acreditamos que chegou o momento de deixarmos de refletir pouca sombra, sombra de alma que não se encaixa bem no corpo, alma pouca.
Sabemos faz tanto tempo, que no amor é preciso se perder, para que um dia possamos nos reconstruir. Mas perder-se no amor, algumas vezes, dói tanto...
Então, depois desse tempo indispensável à minha alma, você chegou.
Não vou dizer que demorou... mas que estava por aí, no mundo, cuidando também de seus amores, pois todas as coisas imortais estão no mundo, cada intelecto, cada Deus pessoal, cada alma iluminada pelo universo.
Não quero que você ultrapasse seu tempo, assine um contrato, ou algo parecido com um termo de posse.

- Para você que chegou agora na minha vida e bateu na minha porta, tenho primeiro a dizer que gostar é deixar voar. Gostar não combina com egoísmo ou prisão.
- Para você que chegou agora na minha vida, saiba que não é a solução de minhas dificuldades, ao mesmo tempo, é maravilhoso sentir que se preocupa com elas, mas isto me basta, não quero que as tome como suas.
- Para você que chegou agora na minha vida, é fundamental que eu diga que não preciso de muito para ser feliz: seu sorriso, seu toque, sua alegria, seu beijo, já são para mim uma linda perdição. E é me perdendo neles que sou feliz.
- Para você que chegou agora na minha vida, e bateu na minha porta, fique à vontade e a deixe aberta para quando quiser sair, ou até mesmo ir embora. Só quero você, se quiser ficar. Eu quero que fique, mas cabe a nós a coragem de abandonar sentimentos e medos antigos, que de alguma forma, já são confortáveis... e mergulhar outra vez.
Devo ainda dizer que não tenho mais medos de tempestades e ventanias, mas isso sou eu. Até meu medo do frio da alma passou.
- Para você que chegou agora na minha vida, preciso lhe dizer que em alguns dias vou querer estar só, vivenciar minha filha, alguma amiga que não vejo faz muito tempo, sentar no alto de uma montanha para pensar ou escrever, ou meditar. Mas que em outros serei feliz além dos limites, tendo você ao meu lado, esparramados no sofá vendo um filme e comendo pipoca com guaraná, arriscando uns amassos como namorados, depois fazer um amor gostoso, no chão, na cozinha, na cama, no chuveiro. E conversarmos sobre a vida, e ler alguma bela poesia e poder dormir ao som da sua voz.
- Para você que chegou agora na minha vida, tenho um pedido: todas as vezes que nos encontrarmos, que nosso beijo tenha o mesmo sabor do primeiro beijo.
E se depois de tudo isto, você quiser ficar, será importante que nos apaixonemos todos os dias e nunca venhamos a nos esquecer o que nos fez querer um ao outro.
Se você realmente quiser ficar, deixe seu suave perfume na minha cama, quando voltar para a sua, mas que mesmo suave, este perfume tenha aroma de macho no cio.
Se quiser ficar, quando sair, tenha a certeza de que deixarei a porta aberta, para quando quiser voltar.
E se quiser ficar. que fique bem, que seja leve e suave, mesmo diante dos problemas. Já aprendemos que tudo tem solução. E que sejamos um para o outro, a calmaria depois de um dia turbulento.
Se ficar, não se vá por um motivo qualquer, daqueles sem importância, que nos faz dizer palavras que nunca seriam ditas, para que a gente aprenda a não banalizar um sentimento tão raro.
Se ficar, nunca se assuste com a ternura, não a confunda com domínio, apenas permita que minha mão pouse na sua.
Se ficar me ajude a não deixar a mesmice nos atormentar, que tudo recomece a cada dia e seja um novo dia.
Saiba ainda que a dor inconfundível do amor às vezes acontece, mas não vamos rebaixá-la à condição de utilidade (nem a dor, nem o amor).
Se ficar, beba meu mel, meu fel, meu sal, meu sol, prove todos os gostos da minha pele, e permita que eu faça o mesmo com você.
Se ficar na minha vida, que nos tomemos pela mão e estejamos juntos de corpo e alma, sem nunca esquecer que somos indivíduos.
Se ficar, saiba que a nossa história ainda vai ser escrita, só não permita nunca que seus olhos fujam dos meus.
Com toda minha esperança, recebo você.

Madu Dumont

ACREDITAR OUTRA VEZ,,,

JARDINEIRA DO AMOR



A primeira coisa que vi foram seus olhos, que além do azul brilhante que irradiavam, o que não era o mais importante, havia neles uma sedução escondida em uma natureza quieta, dócil, às vezes esperta, outras vezes devassa.
Mas foi bem lá no fundo que percebi uma tristeza talvez camuflada por todas as dores de uma vida vivida.
Tristeza perigosa, (isso eu ainda não sabia) de alguém que merecia ser muito bem cuidado, acarinhado, protegido, mimado.

Olhos sim, mas depois atitudes cheias de um generoso charme, atraente, diplomático. Naturalmente fui percebendo a inteligência e o romantismo, que lhe são naturais.

A presença constante, telefonemas, mensagens, pelas quais eu esperava o dia todo, geraram em mim desejos perigosos que já estavam guardados, adormecidos.

Acreditar - acreditar, como senti um medo enorme de acreditar outra vez. Eu que já havia prometido nunca mais crer. Havia prometido que não daria a chance de que ninguém mais abriria antigas feridas trancadas à sete chaves na minha alma.


Mas tenho esta velha mania de jardineira, de plantar mais um vaso, com uma muda de esperança nas feridas que nem mesmo haviam ainda cicatrizado.

Confiei outra vez, rápido demais, entreguei meu corpo e recebi o seu em um delírio de prazer. Seu domínio, suas ordens, sua força, em momentos do mais completo êxtase.  

Fui triste  por suas antigas tristezas e fui feliz por suas alegrias renovadas.

MEU MEDO AUMENTOU, o medo que sempre tive da ilusão, mas é como se ele deixasse de existir quando você disse "nossa casa". E faz tanto tempo que eu queria ouvir essas palavras outra vez.
Acreditar com a esperança de que minha dor não mais reaparecerá, que minha alma não mais se partirá.

Minha fé no homem que eu quase não conheço, o homem que é você, chega a ser inocente, mesmo depois de quase uma vida inteira vivida.
O prazer do sexo, sentindo outra vez confiança, é infinitamente melhor, queria que você me colocasse dentro de você e algumas vezes, sinto que é isso que acontece.



Ambos ainda sentimos o desejo de tentar mais uma vez e de que nesta vez possamos ser felizes. Esperança, é a palavra chave, mas ver umas poucas roupas suas em meu armário, me devolve o que quero de melhor e sei que posso retribuir este melhor. 

Poderia falar de quem eu sou e o que tenho a oferecer, mas aqui quero falar de você. Você meu homem, tantas vezes forte, tantas vezes (sem que nem perceba) frágil, mas corajoso e cheio de fé na vida, sedutor, popular e completamente bem humorado.

Por mais que busque em minha memória alguém que dorme sorrindo e brincando, depois exausto de amor, acorde sorrindo... não encontro.

E a vontade que fica é a de começar tudo outra vez, mais e mais vezes, você merece e eu também mereço.

Desta vez além da jardineira das flores vermelhas e amarelas, quero ser a jardineira de você.

Talvez um dia venhamos a nos apaixonar profundamente. Talvez possamos sempre continuar a nos fazer felizes como neste suave sentimento.

Quando comecei a escrever, queria apenas falar de você. Não consegui, me inclui na sua história, pois aquele medo do qual falei antes ainda existe. Então te peço uma coisa, se o que sente não for por inteiro, não destrua minha esperança, não me abra mais uma ferida. Garanto que não o farei com você.

Só mais uma coisa, não - duas, você é precioso e a outra é que estou deitada na nossa cama, vestida com seu moletom gostoso - vou dormir com você em mim.


Madu Dumont - 28/05/2017


quinta-feira, 11 de maio de 2017

AMOR VIRTUAL

SOMOS PERSONAGENS NESTA TELA


Não estamos aqui por qualquer outro motivo que não seja o medo.
É verdade, depois de viver quase que uma vida inteira, descobrimos que tememos o amor.

Já não temos coragem de olhar fundo e verdadeiramente nos olhos de outro alguém. Por isso estamos aqui, procurando um amor virtual.

Aqui a dor não nos ameaça, nem o sofrimento ou a desilusão, pois não existe a maciez do toque, não existem carícias, nem o cheiro da pele, ou o suor do amor feito, nem o sabor inebriante ou a dor inevitável do sexo, não existe o brilho do olhar.

Aqui é onde podemos encontrar outros iguais a nós que vivem da fantasia de um amor perfeito atrás da tela morta e imóvel.

Aqui damos vazão às nossas fantasias.

Aqui não importa a verdade, mesmo que ela nos intrigue, não importa a sinceridade dos sentimentos.

Aqui jamais seremos presos por um cadeado de carne.

Aqui seremos apenas cada um de nós, com os sonhos que nós mesmos sonhamos, com a ilusão que nós mesmos criamos. E ninguém jamais saberá se somos verdade ou personagens de um teatro imaginário.

Aqui ninguém arrancará nossas máscaras, e com elas a nossa pele. Não sangramos, mas a realidade ri de nós como uma velha... sem dentes; que se compraz no nosso medo, e não conseguimos ver o quanto a velha é feia em sua gargalhada estridente.

Quando vem o dia nossa vida corre sem atribulações, não é necessária a espera, ninguém disse que chegaria.

Quando vem a noite estamos sós, mas basta fechar os olhos e dar vazão a emoção de imaginar o amor.

Aqui sentimos o prazer, vemos alguém que foi traduzido por uma foto, e algumas palavras escritas. 


Encontramos com nosso parceiro virtual e nesse quase funeral do amor, nosso luto é a saudade de um tempo em que não existia o medo, e saudade... Saudade não tem cor. 

Madu Dumont

sexta-feira, 28 de abril de 2017

SEREI EU



SERÁ MINHA A CORAGEM, SEREI EU



Minha força está sangrando e é um contra-senso, pois sinto que estou grávida de futuro.



Agora sigo. Não me basta ter pensado, ter sentido.
As perguntas surgem sem respostas (nunca sei as respostas), não conheço a verdade e admito – a verdade é às vezes, irreconhecível.
Se não tenho medo de novas tempestades nem de ventanias, serei obrigada a viver esta nova realidade que me ultrapassa.
Será minha a coragem de abandonar sentimentos antigos, já confortáveis e mergulhar em minha nova história.
Esquecer por completo a comodidade de permanecer neste mundo impessoal, em que me refugiei, sem alcançar nem o pior nem o melhor, recebendo e dando a mim mesma meu triste e parco afeto.
Não quero mais me adornar de mim e passar o longo tempo do dia representando o papel de ser, sem absolutamente nada ser, apenas refletir pouca sombra. Sombra de alma que não se encaixa bem no corpo, alma pouca e atordoada.
Não serei mais privada de mim, serei eu mesma, não a ilusão de outro “ser”, por mais que isto me pareça distante, ou difícil, ou dolorido... Mas se eu continuar, e souber esperar, a dor acaba por passar. Sempre passa.




Eu, que já morri tantas vezes, renasci sem sentir o gosto do novo, quero morrer outras tantas vezes, para ressurgir, experimentar de novo, outra vez. Ou nunca mais morrer, ou nunca mais viver, várias vidas em uma.
Nunca mais acordar sem saber quem sou, e depois me lembrar vagamente, que sou uma mulher e devo agir como mulher, seguir o destino que me ensinaram. Não, nunca mais.
Experimentar quase tudo, a paixão e o seu desespero, a felicidade e a desventura, a dor inconfundível do amor (sem nunca mais rebaixa-lo à condição de utilidade), a ilusão do querer ser, a simplicidade de um sorriso, o grito, a loucura sem remissão, o engano. Embriagar-me com o ar da manhã, caminhar sem ter para onde, e chegar onde desejei chegar. Seguir ao acaso e ser um acaso (todos de alguma forma o somos). Mergulhar em minhas alegrias, e na falta delas encontrar minhas tristezas, e mergulhar de novo. E sonhar. Dar-me o direito de sonhar sempre, todos os sonhos que me neguei. Perder o medo da ternura e me entregar ao carinho, ao toque, à suavidade de um encontro que pode incessantemente viver até o mundo acabar. E toda noite lembrar-me de como foi o dia, sem permitir a invasão da mesmice. E que cada hora seja uma hora devida no cálculo da memória. E mais ainda, encontrar-me comigo mesma, e sofrer um pouco, o que também pode ser um prazer maligno. Nunca esquecer meus medos e meus tédios. 
Nada de fórmulas, nem formas para viver, mas sempre me recordar de que o destino de uma mulher é ser mulher, nem que seja no instante quase dolorido, e alucinado, e embriagador, do amor.
Minha força está sangrando e é um contra-senso, pois sinto que estou grávida de futuro.
Parto para o dia e para a vida. Minha história ainda vai ser escrita.

quinta-feira, 6 de abril de 2017

BEM VINDO AO MEU DELÍRIO



ABISMO




Ouço a razão de meu instinto,
o último eco da dúvida.
Esqueço as palavras,
viajo ao fim da noite,
acima do abismo mais profundo.
Por momentos, meu espírito fraqueja,
temo desabar.

Temo minha fome insaciável,
parte de uma imensa teia.
Teia de mentiras.
Chego às profundezas das fraquezas
e dos delírios íntimos.
Uma falsidade fascinante,
labiríntica,
fluida,
irrefreável como água.

Mundo artificial,
coagulado
                      e 
morto, cobrindo
minhas emoções
com véus de hipocrisia.
Como uma mandrágora diante do toque humano – grito.
Sou um veneno que não atinge somente a carne,
mas alcança os recônditos mais profundos.
Raiva,
ciúme,
colisão,
tudo despido de poesia. 

 
Madu Dumont